Convocamos esta blogagem coletiva de última hora depois da publicação do marketing sexista, heteronormativo, cissexista e que além de tudo fazia apologia ao crime de estupro feito pela marca Prudence de preservativos.
Porém, a Prudence não está sozinha no mercado a espalhar e reafirmar preconceitos, estereótipos de gênero, racismo e heteronormatividade. A publicidade brasileira está repleta de exemplos de propagandas preconceituosas que desmerecem, objetificam, caricaturizam ou simplesmente deixam invisíveis e à margem da sociedade vários segmentos de pessoas que não são pessoas brancas heterrosexuais e cissexuais.
Convocamos esta blogagem coletiva para deixar claro que não estamos de acordo com esse tipo de publicidade, que se utiliza de cinismo e preconceito para vender seus produtos. Não estamos de acordo com essa publicidade que impõe padrões, banaliza ações e discursos criminosos. Que objetifica corpos, e faz caricatura do que não compreende, nem respeita.
Queremos dizer que essa publicidade não nos representa e não a aceitamos, nem aceitaremos ou utilizaremos os produtos que esse tipo de publicidade promove.

Abaixo segue a resposta do e-mail que foi mandado por Lia Drummond, à DKT Internacional (detentora da marca Prudence), reclamando da propaganda. Reproduzo abaixo a versão traduzida por mim (o original em inglês pode ser lido aqui):
“Cara Senhora,
Agradeço o seu e-mail.
Estamos cientes desta situação e queremos assegurar à sra e à tod@s @s demais que se sentiram ofendid@s, que sentimos muito por este terrível erro.
DKT inequivocamente condena, todo termo ou inferencia que promova relações sexuais não consensuais, entre parceir@s. Essa publicidade infeliz (que não foi criada nem pela DKT, nem pela Prudence, mas que foi imprudentemente postada na nossa página do Facebook por uma agencia de publicidade terceirizada contratada ) é horrível e repugnante à nossos valores fundamentais.
DKT celebra relações sexuais consensuais seguras e alegres e nos desculpamos que quaisquer uma das nossas ações de marketing tenham ofendido nossos clientes no Brasil e em qualquer parte. Nós esperamos que voces aceitem e divulguem nossas desculpas.
E além disso, DKT Brasil vai lançar uma nova campanha na próxima semana para denunciar e lutar contra a violencia sexual. Esperamos que isso ajude a mostrar o nosso compromisso para com essa causa.
Por favor nos informe se houver algo a mais que a DKT possa fazer para para corrigir esta situação.
Sinceramente,
Christopher Purdy
Christopher H. Purdy – Executive Vice President – DKT International”
Publicaremos aqui todos os links das pessoas que participaram dessa blogagem coletiva. Se quiser incluir seu post, basta deixar o link nos comentários.
- Cultura do estupro, da propaganda da Prudence às piadinhas de estupro por Thais Campolina no Ativismo de Sofá.
O pensamento que mulheres gostam de fazer “charminho” para aceitar investidas masculinas é nocivo porque generaliza um comportamento, muitas vezes relativiza o consentimento feminino, supõe que todo “não” ou “talvez” dito por uma mulher é um sinal de que é só insistir mais que ela vai ceder e coloca toda a manifestação feminina negativa como parte de uma brincadeira. É necessário destacar que o consentimento é necessário mesmo para jogos eróticos – se não houver consentimento não há sexo: há violação do corpo. Há estupro.
- A publicidade vista pelos olhos de uma leiga inconformada por Deh Capella.
Eu sempre me pergunto como é possível que, existindo um grupo de pessoas responsável pelas várias etapas de produção e divulgação de um anúncio, uma alusão a um crime passe batida. Meu questionamento é aquele mais simplista mesmo, “mas não tinha um pra ver isso e falar ‘ó, isso vai dar problema’?”. Percebam que nem levanto aqui a lebre da ética, de a pessoa dizer “isso é estupro, estupro é crime e não podemos divulgar um negócio desses”, mas me estarrece a possibilidade de que ninguém tenha previsto nem que aquilo seria fonte de contestação e seria prejudicial ao produto e à empresa. Serão maus profissionais ou indivíduos de princípios morais questionáveis, do tipo que acha que “ah, normal, é brincadeirinha só”?
- Foi só uma piada, gata por Natália
Realmente, deve se gastar muito mais calorias para tirar a roupa de uma mulher, quando ela não quer, não deixa, e se defende. A mulher fica lá se debatendo e o homem insistentemente se utiliza da força para segurá-la, para tirar a sua roupa e tudo mais. Lá se vão muitas calorias, de fato. Mas, oi?, qual é o nome disso?! Isso, senhor diretor de marketing da Prudence, se chama abuso sexual! Isso, queridas mulheres, é uma piadinha machista que nos diminui, que nos ofende e nos agride! Isso incentiva o comportamento de milhares de homens que não tem nem noção de que as mulher não nasceram para servir os homens. Porque, sim, os homens também receberam uma educação machista quando crianças e também não percebem o quanto são machistas! Isso é uma ilustração triste e verdadeira da sociedade de hoje!
- Propaganda sexista: ninguém merece! por Lilian Felix
Gente, não há o que se discutir: tirar a roupa de uma mulher sem o consentimento dela é estupro. Não há licença poética aqui que mude o que está escancaradamente escrito. O embrulho no meu estômago piorou ao ler pessoas defendendo a peça, com argumentos que iam desde o desdém “ah, é só uma piada”, “ah, parem de mimimi, e só uma propaganda”, até pessoas argumentando que o “sem consentimento” se refere ao “charminho” que a mulher faz antes de uma relação sexual. E de quem partiu essas defesas apaixonadas? Oras, de uma maioria esmagadora de homens cissexuais.
- A propaganda da Prudence e a heteronormatividade por Kamila no Minoria é a Mãe
Talvez seja necessário esclarecer que para se fazer apologia a alguma coisa não necessariamente o nome dela precisa ser mencionado. A palavra estupro não aparece na propaganda, mas ela fala de sexo sem consentimento – mais especificamente de ações feitas contra a vontade da mulher. Eu não sei vocês, mas pra mim eles não estão falando de sexo. Nem sobre conquista, que é o que tentarem alegar primeiro.
- Guest Post: Propaganda acima do bem e do mal por Vivian
A imagem, que desde o dia 16 de julho está no ar, se refere a uma “Dieta do Sexo”, mostrando quantas calorias se pode perder praticando alguns atos sexuais. Mas a lista contém intrigantes itens como “Tirando a roupa dela sem o consentimento dela: 190 cal” e “Abrindo o sutiã com uma mão, apanhando dela: 208 cal”. Ora ora, o apanhando dela até poderia fazer referência ao universo sadomasoquista, mas como explicar o sem o consentimento dela? Prudence, o que raios vocês querem dizer com o SEM o consentimento dela?
A publicidade foi colocada na página da Prudence no Facebook no dia 16 de julho, e só hoje (30/07/12) retirada de circulação. Tal anúncio refere-se a uma “Dieta do Sexo”, mostrando quantas calorias é possível perder praticando diferentes atos sexuais. Entre os atos citados, há dois polêmicos: “Tirando a roupa dela sem o consentimento dela: 190 cal” e “Abrindo o sutiã com uma mão, apanhando dela: 208 cal”.
A propaganda da empresa Prudence, que vende preservativos, é inadmissível. A peça é machista e trata o estupro de forma corriqueira, como uma “brincadeirinha a dois”. Estupro não é sexo. E uma marca de preservativos não deveria ligar sua imagem ao desrespeito às mulheres. Não é só homem que compra camisinha ou gosta de sexo, Prudence!
- A violência é fácil de se entender por Julia no Feminerds
Se eu disser que estou tomando algo emprestado sem você saber ou permitir, qualquer um virá prontamente com uma correção: não é tomar emprestado, é roubar. Trata-se de uma maquiagem linguística que não disfarça de todo o que significa tomar emprestado sem permissão – ora, desde que o mundo é mundo a palavra para isso é roubo, e ninguém contestaria que trata-se de roubo, e não ocorreria a ser humano algum sobre essa terra sugerir que esse “sem você saber” pode ser uma alusão a convencer você a me emprestar. Se você não deixou ou nem foi consultado, o que eu tomar emprestado está, na realidade, sendo roubado! Há como debater?
- Dear Prudence por Fran Carneiro
01. Sexo sem consentimento é estupro.
02. Fantasias sexuais de estupro só são fantasias se houver consentimento.
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Cultura de estupro? Não, imagine! por Lola
Cultura de estupro é vender camisa (e muita gente comprar pra usar) com “fórmula do amor”, que equivale a embebedar a mulher para conseguir sexo sem resistência. Cultura de estupro é um programa de TV fazer rir em cima de um problema que acomete milhares de mulheres por dia (bolinações dentro de meios de transporte coletivo). Cultura de estupro é anúncio de preservativo brincar que sexo sem consentimento queima mais calorias.
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Por que é recorrente o uso de violências sexuais nas publicidades? por Júlia Zamboni
Afinal, insistimos em ver a sexualidade masculina como ativa, enquanto o lugar do feminino é da passividade. A lógica do estupro está na iniciativa masculina, quase como uma obrigação de tentar o convencimento ao sexo. Reitero, sexo sem consentimento é estupro. Não é não. É evidente a tentativa de deslegitimar a voz e a fala da mulher, como se não soubéssemos o que queremos. Além disso, esse argumento do “joguinho entre casais” é tão frágil. Tirar a roupa da mulher a força não é joguinho. Existem milhões de formas de convencer uma mulher a fazer sexo com consentimento, sem tirar a roupa dela a força. Por favor, né?
Publicidades fazem uso do estupro como elemento de fetiche para estimular as vendas. Na mesma lógica da sexualidade ativa dos homens, os elementos da dominação masculina evidenciam desejos e fantasias.
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Sob os olhos da espectadora por Isa
Devo confessar que fiquei indignada ,mas não exatamente chocada ou surpresa,ao ver essa propaganda.Isso se deve ao fato de que a campanha é apenas a ponta do iceberg. Afinal,a propaganda da Prudence pode ter sido tirada do ar,mas existem várias (algumas tão ofensivas quanto) espalhadas por aí.
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Preservativos Prudence e o estupro por Juliana Lopes
Diz ainda que queriam mostrar “de modo divertido”, quantas calorias se pode perder fazendo sexo. Opa… divertido? Sexo SEM CONSENTIMENTO é estupro. Onde tem algo divertido nisso? Um homem tirar sua roupa apanhando, ou seja, SEM CONSENTIMENTO, é certo?
Lendo sobre isso na net, claro que vi os comentários idiotas generalistas de sempre. Alguns defendiam a propaganda, dizendo que era só uma brincadeira, que as feministas que estavam metendo o pau não têm senso de humor.
A medida que forem aparecendo mais posts sobre o assunto atualizaremos a lista. Obrigada a tod@s que participaram.