Mais mulheres no poder, por quê?

Texto de Aline Lopes.

Estamos em 2012, ano de eleições municipais. Confesso que refletir sobre a dinâmica eleitoral brasileira me inquieta.

Historicamente, nós mulheres sempre fomos alijadas das esferas de poder. Porém, ao longo do tempo, devido às diversas transformações sociais esse quadro tem mudado. E a luta por mais mulheres na representação política no Brasil não se trata somente da reparação de uma desigualdade histórica e socialmente construída, trata-se também de reconhecer a capacidade das mulheres de produzir e influenciar resultados e atuarem no cenário político como atrizes legitimamente capacitadas a interferir nas decisões.

E a década de 2000 nos permite assinalar aspectos importantes destas mudanças, como marco desse período temos a eleição de uma presidenta, uma conquista efetiva para o processo de empoderamento das mulheres.

Mas, infelizmente, a sub-representação feminina nos cargos de poder associados com a Representação Política continua como um dado evidente e preocupante. O político e a política são moldados por símbolos e estereótipos que obstaculizam a entrada e ocupação feminina neste espaço. A forma como são concebidas as posições ocupadas por homens e mulheres é sempre atravessada pela perspectiva dualista público e privado.

Por isso, ainda é forte o designo da mulher a esfera doméstica, as questões relativas ao cuidado e a esfera privada em geral, e quando mulheres decidem competir por cargos políticos são sempre de alguma forma questionadas sobre como conciliarão seus papéis de mães/mulheres com suas vidas públicas, quando não, comentários sobre a maneira como se vestem, especulações sobre suas vidas conjugais e afetivas, sobre suas aparências também são freqüentes.

Outro aspecto, também presente em toda essa dinâmica eleitoral, é o de que poucas mulheres detêm um “capital político” — como trajetória, ajuda do partido, amplas redes de apoio e financiamento de campanha, entre outros elementos —, para entrar em uma disputa. Tanto que quando elas superam essas barreiras a distância entre os homens diminui substancialmente, a dificuldade maior é justamente transcender essas diferenças para que elas possam de fato competir em pé de igualdade.

Mosaico com fotos de Margaret Thatcher, Angela Merkel, Ellen Johson Sirleaf, Michelle Bachelet, Pratibha Patil, Cristina Kirchner, Julia Gillard e Dilma Roussef. Presidentas e Primeiras Ministras. Fotos: Agência Reuters.

Somos quase 52% do eleitorado brasileiro e ocupamos apenas 9,5 % das cadeiras no Congresso Nacional. Nas eleições de 2010, foram 45 deputadas eleitas de um total de 513 cadeiras e, 12 senadoras de um total de 81 vagas. Essa quase completa ausência das mulheres nos espaços decisórios da política institucionalizada no país, merece atenção, pois afeta a qualidade democrática do nosso sistema.

Ainda no âmbito das conquistas, temos a política de cotas por sexo que é um passo importante dentro das lutas femininas. Porém, embora esta tenha sido fundamental de um ponto de vista simbólico, pois possibilitou trazer para a sociedade a discussão a respeito do tema, de uma perspectiva quantitativa ela não tem surtido muito efeito.

É claro que o fato de termos uma mulher ocupando o cargo de maior autoridade do poder Executivo não deve ser ignorado. Porém, o diagnóstico real da situação nos permite uma compreensão mais ampliada do estágio em que as mulheres de fato se encontram nessa dinâmica. Por isso, devemos ter em conta que a caminhada por uma paridade participativa está só no começo, o processo da inserção política de mulheres, e mesmo da representação deve vir a ser questionado, pois este é um espaço que precisa das contribuições fundamentais das mulheres organizadas.

Para responder a pergunta que intitula este post, minha opinião é a de que mais mulheres no poder, e especialmente mais candidatas comprometidas com uma agenda de transformação e enfrentamento dos problemas que seja efetivamente feminista, são mecanismos que podem contribuir para a superação de diferenças em diversas esferas da vida social.

Mais mulheres no poder é também uma forma de modificar a atenção que é dada às políticas públicas, é um elemento que pode vir a trazer mudanças simbólicas e culturais sobre o papel da mulher na sociedade fazendo com que o respeito e reconhecimento pelas mulheres aumentem. E acredito também que a presença feminina é uma maneira de pressionar as agendas públicas e transformar os quadros mais tradicionais e engessados da política.

Enfim, minhas expectativas para essas eleições não são muito positivas, mas todo processo de transformação é lento e gradual, e é nisso que eu acredito: que estamos a passos lentos conquistando espaços, alcançando posições e modificando pontos de vistas e conceitos pré-estabelecidos. Um desenho institucional justo só é possível de ser alcançando com a participação efetiva de todos os grupos que compõem a sociedade, queremos mais mulheres no poder, precisamos de mais mulheres no poder!

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Aline Lopes é estudante de Ciências Sociais, inquieta com a condição feminina e ansiosa diante da pluralidade de coisas transitórias.