Pequenos ativismos, grandes impactos

“Ação na faculdade Leão Sampaio em Juazeiro do Norte/CE – Arquivos pessoais – reprodução livre”

Ser ativista pode ser uma tarefa bastante complicada e desgastante: ir às ruas, levantar cartazes, organizar paradas, gritar; tudo isso para reivindicar e conquistar direitos. Enquanto esse tipo de manifestação tem o seu papel e é extremamente importante, também é verdade que nem todas as pessoas têm tempo ou disposição para esse modo de ativismo, mesmo que desejem contribuir. A boa notícia é que o ativismo pode ser feito de formas simples, práticas e individuais, até mesmo por você.

Veja algumas sugestões a seguir:

1) Use papel e caneta ou impressora

Uma das formas mais impactantes de intervenção política é a exibição de mensagens em locais públicos, em pontos estratégicos que possibilitem uma boa visibilidade. Você pode usar editores de texto como Microsoft Word para escrever uma mensagem bem grande e chamativa em uma única folha e imprimir. Quem não tem impressora em casa ou no trabalho pode levar o documento salvo em um cartão de memória ou pendrive, ou até mesmo no próprio celular, e imprimir uma papelaria ou lanhouse. Uma impressão de apenas 10 folhas sai bastante em conta e pode fazer uma grande diferença. E aí basta colá-las no seu trabalho, na sua faculdade ou mesmo na sua rua.

Se você não pode arcar com a despesa, outra opção é usar folhas que sobraram de cadernos antigos e escrever mensagens com canetas ou pincéis. O que importa é impactar.

Ações como essa têm o poder de provocar reflexão, especialmente quando desvinculadas de pessoas ou instituições. Disponibilizar algum tipo de contato para sanar dúvidas de pessoas curiosas também pode ser uma estratégia excelente, apenas certifique-se de pode arcar com os riscos e responsabilidades.

2) Distribua panfletos

Uma boa panfletagem pode fazer diferença, principalmente se bem planejeada e dirigida a um público alvo específico. Entradas e saídas de faculdades e praças públicas são localizações estratégicas; a primeira por possibilitar o diálogo direto com jovens, que têm muito o que refletir e geralmente têm a cabeça mais aberta e tendências revolucionárias; a segunda por atingir uma grande massa da população, dando grande oportunidade de conhecerem esses assuntos.

“Panfleto anti-estupro do grupo Feministas do Cariri, reprodução livre”

Lembre-se de utilizar uma linguagem acessível e criar um visual atraente à leitura. Textos muito longos e letras muito pequenas em um espaço apertado podem não apenas não chamar a atenção, como também desestimular a leitura. Não deixe que seu trabalho seja em vão, analise o conteúdo e faça com que ele seja produtivo.

Não esqueça que você também pode compartilhar o material pela internet para que outras pessoas possam realizar a panfletagem em outros lugares.

3) Encaixe o assunto sempre que puder

Você já parou para pensar em quantas oportunidades tem para falar ou escrever sobre algo? É provável que você tenha muito mais chances e oportunidades de expôr sua opinião do que imagina. Por exemplo:

– Se você estuda, eventualmente terá a chance de escrever redações que serão lidas em voz alta, para a sala inteira. Por que não aproveitar para abordar um tema pertinente ou encaixar alguma observação importante? Algumas escolas ou faculdades ainda vão além e pregam as melhores redações em murais, distribuem para outras salas ou publicam em jornaizinhos, ampliando bastante a chance de gerar desconforto e ponderação.

– Relacione sua área de trabalho ou estudo com Direitos Humanos; aborde o feminismo e tente produzir conteúdos instigantes em seus artigos científicos e pesquisas acadêmicas. Assim seus ideais podem alcançar mais pessoas e comunicar algo importante para quem ler suas produções.

– Aproveite sempre que tiver a chance de apresentar palestras, apresentações e seminários. Tente encontrar brechas para citar figuras históricas feministas, mostre pesquisas, compartilhe dados ou curiosidades relevantes à discussão que provoquem pensamento crítico sobre o assunto. Não é difícil encaixar temas feministas em outros assuntos; por exemplo, em um trabalho sobre a vida e obra de Sartre, você poderia mencionar a relevância de seu relacionamento com Simone de Beauvoir e apresentar um pouco da sua abordagem. Essa é uma ótima forma de mostrar que o feminismo está em tudo e que não são problemas inventados e desvinculados da sociedade.

– Se mostre presente em reuniões de trabalho, faculdade, escola ou mesmo o seu condomínio, para aumentar a conscientização sobre problemas enfrentados por grupos minoritários. Mesmo que não tenha nenhum problema específico, você pode tornar um ambiente em um local de melhor convivência se mencionar as dificuldades que mulheres enfrentam com agressão verbal, difamação ou mesmo abuso sexual. Se você tem filhos em idade escolar, reivindique uma educação feminista e igualitária nas reuniões e conscientize pais e professores sobre a importância de proteger crianças com potencial para se tornarem vítimas de bullying.

4) Dialogue

Familiares, amigos, colegas de trabalho, ou até mesmo as pessoas na fila do pão: essas pessoas possuem opiniões e também vivem em um círculo social, onde fazem comentários sobre fatos e acontecimentos do dia-a-dia. Crenças e ideologias influenciam fortemente a forma das pessoas de ver o mundo; não devemos desperdiçar a chance de plantar uma sementinha ativista em suas filosofias de vida, algo que pode frutificar e proporcionar valiosas mudanças e revoluções no futuro.

Lidar com pessoas que emitem opiniões contrárias pode ser estressante e nem todo mundo consegue manter a calma, por isso tente se preparar e manter-se sob controle. Mas jamais subestime o poder de influência que uma boa observação feminista sobre notícias recentes, como uma menção contra a violência ou a apologia ao estupro, pode ter sob outras pessoas.

Tente causar empatia, toque a humanidade e procure dialogar usando exemplos com as quais as pessoas possam facilmente se identificar. Pergunte como elas se sentiriam caso estivessem em outra posição e o que diriam às pessoas que sofrem assédio nas ruas ou às vítimas do aborto ilegal. Não é preciso elaborar uma grande retórica, basta ter a atitude de instalar a reflexão e fazer com que as pessoas reflitam sobre suas próprias convicções.

“Ação na faculdade Leão Sampaio em Juazeiro do Norte/CE – Arquivos pessoais – reprodução livre”

5) Se manifeste pela internet

Qualquer pessoa pode criar e manter um blog, ou abrir uma conta em redes sociais como o Twitter ou o Facebook e utilizá-las como veículo de comunicação para fazer ativismo.

Você pode escrever artigos, gravar ou montar vídeos, comentar em publicações ou editar imagens, até mesmo em programas de edição simples como o Paint. Para quem prefere manter a privacidade, dá fazer tudo isso anonimamente; há até mesmo blogs coletivos para quem não aprecia a idéia de manter um site pessoal. A internet é um enorme meio de comunicação e uma das maiores responsáveis pela globalização; o mero ato de deixar um comentário em uma página pode causar reflexão, tanto em quem escreveu quanto em outros leitores.

Uma forma mais recente de fazer ativismo online e que tem se mostrado bastante eficaz, é a tentativa de tornar em um viral a expressão de indignação por alguma coisa. Foi o que aconteceu, por exemplo, com uma propaganda da marca de camisinhas Prudence ou com um comercial da Nova Schin. Dessa forma, muitas pessoas podem ser impactadas, especialmente em redes sociais como o Facebook e Orkut, onde geralmente adicionamos centenas de familiares e conhecidos, que na maioria das vezes estão totalmente por fora de nossas convicções políticas.

Procure lembrar que acessibilidade é tudo e que seu tom faz muita diferença. Não se acanhe: mesmo um trabalho de “formiguinha” só tem a agregar e pode ser o pontapé inicial para o ativismo de outras pessoas.