Thinspiration: inspirações perigosas

Quase todo mundo que já fez dietas alimentares para perder peso já deve ter utilizado fotos de artistas como inspiração ou meta. Esse é um dos métodos mais comuns de reforçar o objetivo de emagrecer. O que muitas pessoas não percebem é que a maioria das fotos de celebridades apresentam corpos irreais, modificados com o uso de programas de edição de imagem. Ainda assim, espelhar-se em imagens de gente famosa nem de longe chega a ser tão problemático quanto o uso das fotos inspiracionais conhecidas como “thinspiration”.

O termo thinspiration, uma junção das palavras inglesas “thin” e “inspiration”, resultando em algo como “inspiração magra”, diz respeito ao uso de fotos de pessoas extremamente magras, quase sempre do sexo feminino, como inspiração para o processo da perda de peso. O grande problema é que a exibição de tão tremenda magreza como meta pessoal não estimula somente práticas saudáveis, como uma dieta variada ou uma vida ativa; o thinspiration estimula também diversos transtornos alimentares, uma vez que somente por meio dessas condições seria possível alcançar índices de gordura tão baixos e não voltar a ganhar peso.

As mulheres são as principais vítimas do thinspiration. Por meio de mensagens de repulsa à gordura e exaltações ao emagrecimento excessivo em corpos femininos, mulheres são influenciadas pela mídia e pela indústria de cosméticos a odiarem seus corpos. Aquelas com a autoestima abalada têm uma propensão muito maior a se deixar levar pelo thinspiration e buscar o emagrecimento por meio de métodos radicais e perigosos.

Foto do Flickr de Megan Anne K, alguns direitos reservados.

Para obter esses corpos, garotas e mulheres de todo o mundo aderem a pelo menos alguns sintomas de transtornos alimentares, tais como o “no food”, a privação de alimento por períodos prolongados; o “low food”, consumir somente o minimamente necessário para não morrer; a bulimia; ou mesmo a prática intensa e exagerada de exercícios físicos. Há uma grande variedade de métodos nada saudáveis para aumentar o gasto calórico e reduzir a ingestão de alimentos.

Durante o processo, muitas pessoas envolvidas compartilham entre si frases e fotos inspiracionais por meio da internet, incentivando umas às as outras a não desistirem apesar da fragilidade, para que assim alcancem o corpo magérrimo que almejam. Em blogs pró-ana e pró-mia, abreviações de pró-anorexia e pró-bulimia respectivamente, é comum o uso de imagens consideradas thinspiration: fotografias de celebridades que já tiveram ou ainda passam por transtornos alimentares, ou mesmo de garotas comuns que publicam fotos próprias em seus blogs.

Pessoas com transtornos alimentares geralmente possuem uma visão distorcida de seus próprios corpos e, muitas vezes, enxergam-se muito mais gordas do que de fato são. Várias delas almejam pesos baixíssimos, absurdos para uma pessoa adulta, como os tão falados 38kg. Uma busca rápida no Google mostra a gravidade da situação, com inúmeros relatos de pessoas que, devido ao emagrecimento excessivo, se tornaram doentes, até mesmo ao ponto de não serem capazes de andar.

Foto do Flickr de Tollie Schmidt, alguns direitos reservados.

Uma das maiores dificuldades no combate contra os transtornos alimentares se encontra na normatização da magreza excessiva. A gordofobia é uma das armas mais violentas contra a autoimagem e autoestima das pessoas, que então fazem de tudo para emagrecer. Mesmo pessoas magras são condenadas pelo menor sinal de celulites ou “gordurinhas” – a maioria das quais são perfeitamente naturais, até mesmo necessárias para o bom funcionamento do corpo. As pessoas são incentivadas a sentirem culpa ao comer, especialmente ao comer por prazer; a sociedade não nos permite um relacionamento saudável com nossos corpos e com nosso cardápio.

É importante compreender que corpos magros não devem ser motivo de vergonha, assim como nem todos pertencem a pessoas com transtornos alimentares. Há gente que não consegue engordar, assim como há pessoas que simplesmente não querem. A beleza é algo subjetivo e plural, não sendo assim possível estabelecer um padrão único de beleza. O problema não se encontra na magreza e sim no culto pela magreza excessiva, que faz com que várias pessoas a utilizem métodos de emagrecimento perigosos e desenvolvam transtornos alimentares. Muitas pessoas, na maioria massiva das vezes mulheres, são levadas à morte todos os anos devido à anorexia e à bulimia incentivadas pelo thinspiration.

Enquanto feministas, temos o dever de lutar pelas vítimas da imposição social de beleza. É fundamental combatermos a mídia e as indústrias, para que parem de incentivar dietas e práticas tão perigosas que levem ao alcance da magreza excessiva. Façamos com que reproduzam modelos de vida saudáveis, que formentem uma relação livre e sem culpa com a alimentação e promovam o bem estar de todos os corpos.