Palavras de uma ex-homofóbica

Texto de Fernanda Ottoni.*

Eu acredito que a homofobia pode ser amenizada (não sei se seria correto utilizar a palavra “curada”, mas acredito que possa existir respeito para com a(o)s homossexuais). Não acho feio admitir que já fui homofóbica, mesmo sendo homossexual, pelo contrário. Eu nunca ouvi em minha casa nenhuma piada ou ofensa grotesca a homossexuais. Isso fez com que eu crescesse (mesmo me percebendo “diferente” desde pequena) sem ser uma preconceituosa “assumida”, digamos assim.

Mas, lá no fundinho, eu acabava por pensar: “poxa, pode ser gay, mas precisa se vestir de mulher?”. E, o PIOR, sempre fui uma mulher masculinizada. Lembro do meu sofrimento durante minha primeira comunhão (quando tive que usar vestido, obrigada por mamãe, porque toda menininha usava vestido nessa ocasião, rsrsrs). Enfim… Esse é apenas um exemplo, mas existiam mais casos. Soube há poucos anos que eu era uma preconceituosa velada (Já que nunca exteriorizei tal pensamento, nem discriminei ninguém).

Hoje, costumo responsabilizar a ignorância como maior responsável por existir a homofobia (deixando claro aqui que ignorância é falta de conhecimento). Fui homofóbica, tive pensamentos homofóbicos, porque não tinha conhecimento algum acerca do assunto. Quando mais nova, nunca me senti bem me vestindo de forma mais feminina, sempre tive sentimentos por mulheres e nem sabia direito o que isso significava.

Me apaixonei por uma mulher, aquele sentimento mais forte, quando tinha 21 anos. Começamos a namorar e eu, que não me acho muito boa em contar mentiras, contei logo para minha família. Esperei o fim do mundo, pensei que mamãe fosse infartar, e, para meu espanto, nunca fui tão amada (sim. Sei que tive uma sorte imensa por isso). Minha família me apoiou, me amou e se preocupou bastante. A única coisa que sempre falaram foi: “Cuidado com sua segurança e de sua companheira. Cuidado com o que o mundo pode fazer com vocês”.

O estudante de direito André Baliera, de 27 anos, foi agredido na segunda-feira, 3/12, por volta das 19h, na Avenida Henrique Schaumann, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Imagem divulgada no facebook pelo grupo Gay Brasil. Declaração dada a reportagem: ‘Ele começou a me bater feito um animal’, diz vítima de agressão em Pinheiros do Estadão. Foto de Eduardo Knapp/Folhapress.

Para me proteger busquei informações. Foi aí que fui descobrindo o quanto eu era homofóbica. Poxa! Foi um baque para mim saber que eu, que sempre fui conhecida por ser uma pessoinha “do bem”, era, de forma “velada”, uma pessoa preconceituosa. Fui lendo, buscando informações, ouvindo pessoas, e, de forma madura, crescendo e adquirindo cada vez mais conhecimento acerca da homofobia (e até mesmo da homossexualidade em si).

Fico feliz, hoje, por poder dizer que FUI homofóbica. Fico feliz, hoje, por ver que vou aprendendo sempre mais e mais com os depoimentos, artigos, textos, e afins, com a contribuição de tanta gente por aí. Aprendo com aqueles que sofreram e sofrem discriminação, aprendo com famílias que aceitam bem (como a minha) e com famílias que não aceitam de forma alguma a homossexualidade dos seus. Vi que a vida é feita e construída com aprendizados diários.

É por isso que ainda vejo possibilidade de darmos um jeito nessa homofobia. Se não conseguimos isso hoje, podemos trabalhar pelo nosso futuro, para o futuro dos que virão.

Tenho sobrinhos de 4 e 6 anos (e outros 6 sobrinhos entre 13 e 25 anos), tenho certeza que crescerão sem esse tipo de preconceito. Tenho essa certeza porque não ensinamos isso aqui em nosso meio. Sempre que tenho oportunidade, sempre que vejo os mais velhos fazendo algum tipo de comentário ignorante, busco informá-los. Isso também acontece com meus amigos. Meu círculo de amizade é composto, em sua maioria, por heterossexuais. Sempre que vejo necessidade converso com eles acerca de algum assunto (o uso equivocado do termo “homossexualismo”, por exemplo – dentre outros). E todos vamos aprendendo um pouquinho, uns com os outros, com respeito e carinho.

Me empenho em fazer meu “mundinho” melhor. Acredito que, unidos, podemos fazer um “universo” melhor.

Também já fui bem machista, mas essa história eu contarei depois…

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* Fernanda Ottoni é uma ex-homofóbica (com muito orgulho!). Tem 28 anos e é estudante de Serviço Social.