Texto de Deh Capella.
Uma das grandes lições que se pode aprender no convívio com outras pessoas é de que a diferença existe, povoa o mundo e não só é possível como necessário conviver com ela. Por vários motivos: porque não existe só um modo de viver e de fazer as coisas, porque quem não vive ou pensa da mesma forma como nós merece generosidade, compreensão e respeito e porque é menos sofrido quando não se quer consertar as pessoas e suas atitudes a qualquer preço.
É super temerário apelar àquela exclusividade de conhecimentos e sentimentos que só os pais tem, mas a verdade é que a experiência de quem já teve filho no quesito “ouvir pitacos” é bastante incrementada pela participação, muitas vezes indesejada, de quem sabe o que é melhor pro filho alheio – porque já teve um, dois, cinco, dez (mas não todos) filhos. Então você aí que é mãe já escutou aquele sensacional questionamento a respeito da qualidade do, hm, trabalho desenvolvido neste amplo campo de atuação que é a maternidade.
Deixe pra lá. De verdade. Como sempre enfatizamos, não existe um jeito só de existir e de viver, por que haveria um só sentido e uma prática única? Então quando te perguntarem “mas que raio de mãe é você?”, você pode se inspirar nos exemplos abaixo pra responder e dar aquele sonoro tapa na cara da sociedade:

“Eu sou aquela mãe “solteira” que um belo dia se deu conta de que não precisava abrir mão de ter uma vida amorosa por causa do filho. E aí resolveu se dar uma nova chance, conheceu uma pessoa incrível, namorou, foi morar junto, e em alguns meses o amor da mãe, virou o “amô” do bebê também. E os três vamos muito bem, obrigada.” Tâmara, mãe do Miguel de 2 anos
“Eu sou aquela mãe que colocou a filha no berçário aos 4 meses, sempre trabalhou e viajou por motivos profissionais. Mesmo agora, à caça de um novo emprego, a mantém na escola em período integral. E, acreditem, tenho convicção que estou fazendo o melhor para ela.” Ludmila, mãe da Teresa, de quase 4 anos.
“Eu sou aquela mãe que não amou o bebê de imediato assim que ele nasceu. Nunca acreditei em amor à primeira vista, com a minha filha não seria diferente.” Renata, mãe da Liz de 7 meses
“Eu sou aquela mãe que às vezes espera os filhos dormirem pra abrir um chocolate, porque não quer dividir.” Maria Angélica, mãe da Joana, de 6 anos, e do Bento, de 2 anos
“Eu sou aquela mãe que é a favor da amamentação prolongada, livre demanda e sem paninhos no rosto, mesmo para aquele “homem-feito” de dois anos idade ” Mariana, mãe do Apolo de 02 anos
“Eu sou aquela mãe que ainda lamenta por trabalhar o dia inteiro. Que já sofre pensando que também terá que deixar a segunda filha (que nem nasceu !) o dia inteiro na creche. Mas que, ao mesmo tempo, não se imagina sem trabalhar fora de casa. E que queria ser bem resolvida nesse quesito, mas ainda não conseguiu” Agnes, mãe da Manu de 2 anos e meio e da Lígia que deve chegar ao mundo mês que vem
“Eu sou a mãe que, com medo de ser superprotetora, guardei certa distância e deixei a filha de 3 anos e 9 meses subir no brinquedo do parquinho. Um menino maior a empurrou, ela caiu e teve que levar 4 pontos no queixo” Alessandra, mãe da Isa, de 4 anos e 10 meses
“Eu sou aquela mãe que disse que a filha iria levar o lanche da escola na sacolinha do Boticário, se a lancheira nova esquecida sabe-se onde não aparecesse!!!” Layz, mãe da Elanor de 7 anos
“Eu sou a mãe solteira que não planejou a filha, que não a amou de imediato, até pq ela nasceu muito prematura e foi difícil aceitar tudo o que estava acontecendo, que se culpou por não conseguir segurar a gravidez até o fim. Aquela mãe que quer ser liberal mas se dá conta que na maioria das vezes é superprotetora. Aquela mãe que acabou de assumir um cargo público e vai fazer um treinamento de 2 semanas a 280 km de distância e está com o coração apertado por causa disso… Sou aquela mãe que não consegue mais viver sem essa pituca…” Ana Beatriz, 33 anos, mãe da Lavínia, 1 ano e 10 meses
“Eu sou a futura mãe solteira, grávida de 38 semanas, que vira e mexe manda pro inferno quem acha que agora eu “vou me comportar” e virar uma “moça direita e resignada” porque ser “mãe” é abdicar de si própria.” Diana, grávida, futura mãe do João Francisco
“Eu sou aquela mãe que deixa o filho comer macarrão com molho com a mão. Inclusive em restaurantes. Sou a mãe que foge dos porquês trancando o banheiro pra tomar banho.” Sharon, mãe do Tomás, de 3 anos.
“Eu sou aquela mãe que usava a controversa “coleirinha” na filha sem dó nem piedade porque morria de medo das histórias de crianças sumidas, pior ainda, ensinei a filha a adorar.” Sooraya, mãe da Sofia de 4 anos e meio
“Eu sou a mãe com TDA que às vezes esquece que eles precisam tomar banho.” Nalu A., mãe do Tariq de 9 e do Gael de 3 anos
“Eu sou aquela mãe que tem a cara de pau de levar a filhota de dois anos vestida de pijama a uma festinha chique de outra criança de dois anos.” Amanda, mãe da Sofia, de 2 anos e meio
“Eu aquela mãe que pede conselhos para as amigas da internet e quase sempre dispensa os das avós” Fabiana, mãe da Clarice de 8 anos.
“Eu sou aquela mãe que não dá banho nos filhos quando está com preguiça. Aquela que detesta os porquês. Sou a mãe que nunca manda a filha fechar as pernas porque está de saia e que ama quando a menina brinca de luta de Barbies fingindo que elas são Bakugans. Sou a mãe que está sempre cheia de dúvidas e prefere as dúvidas às certezas consumidas avidamente por tantas outras.” Liliane mãe de Heitor 7 anos e de Anaïs 5 anos
“Sou a futura mãe que, por questões de militância pelos direitos da mulher, se recusa a chamar o feto crescendo dentro de mim de bebê e sigo chamando-o de… fet@. Apesar de explicar as razões e que da 8a semana até nascer, um feto é um feto, não um bebê, muita gente que me cerca segue horrorizada com a suposta despessoalização.” Elaine, grávida de 4 meses.
“Eu sou aquela mãe que aproveita os finais de semana em que o filho está no pai e se diverte sem culpa. E que manda o filho para um intercâmbio num país gelado a 8.000 km de casa e nem fica com remorso.” Cecilia, mãe do Lucas de 18 anos
“Sou a mãe que esquece de lavar uniforme e de encapar caderno e que se ressente com isso. Mas que se recusa a fazer do filho o grande projeto de vida porque acha os ombrinhos dele muito pequeninos.” Deh, mãe do Alê, de 5 anos e meio.
Enfim. Já que é preciso ter muita paciência para lidar com os palpiteiros de plantão, nada melhor do que levar no bom humor. Então a gente te convida a conhecer, e quem sabe até contribuir com este tumblr: http://queraiodemae.tumblr.com/
_______
Deh Capella é mãe do Alê de 5 anos e escreve no blog Por trás da tela…
O FemMaterna é um grupo de discussão sobre maternidade com uma proposta feminista. Se quiser participar, basta pedir solicitação na página do grupo. Participe também no facebook.