Texto de Gleyma Lima.
Eu apanhei aos 16 anos do meu primeiro namorado. Aos 18 anos sofri uma tentativa de estupro. E aos 23 anos fui atropelada. Quando retornei ao trabalho, após o acidente, sofri assédio moral da minha chefe. Na época ela era casada com o “gerente da boca”. Já me apontaram na rua por causa das marcas que tenho no corpo. Em todos esses momentos eu fui violentada.
Cerca de cinquenta mil americanos morreram na Guerra do Vietna. No Brasil, 50 mil mulheres são estupradas por ano, apontou um artigo do jornal O Globo na última semana. Detalhe, esse número abriga apenas um tipo de violência no Brasil. Agora, pense se formos contabilizar todos os tipos de violência. Qual número seria? Você, sabe? Nem eu.
Todo mundo já foi violentado de alguma forma ou conhece algum caso de violência. Quem não conhece ou não é o personagem de uma passada de mão na bunda do metrô? Quem aqui nunca foi ofendido pelo chefe em público? Quem não tem uma estria e se sentiu apontada na praia? Quem nunca ouviu alguém falando de uma gordinha: “Nossa, mas ele tem um rosto lindo, podia emagrecer”. E, você, gato, nunca pegou milhares de mulheres só para provar que era macho? Nunca ouviu um cara falar que deu uns tapas na “mulé” para ela aprender? Nunca conheceu ninguém que sofreu um de acidente de trânsito porque o motorista estava bêbado? Sinto muito dizer que todos nós, em algum momento da vida, fomos violentados ou vimos alguém ser violentado de maneira fisíca ou psicólogica.
Porém, há algum tempo descobri que isso também era violência. Quando apanhei pela primeira vez não sabia que era errado, pois minha mãe apanhou do ex-marido, minha cunhada tinha levado um soco no nariz e eu era só mais uma que fazia parte deste ciclo.

Porém, um dia eu já violentei o direito de alguém. Sim, eu já chamei um cara de viado porque ele não estava afim de mim, eu já gritei com uma pessoa na frente de outras ao ponto de contrangê-la, e eu já pratiquei bullying no colégio. Eu já violentei e já fui violentada em maior ou menor escala, já desrespeitei os direitos de alguém.
Quero dizer que todos nós já frequentamos este tribunal. Então, vamos juntos quebrar o ciclo da violência. Eu não vou mais fazer o que fiz. E, se você não fizer mais, já somos dois. Se mais alguém não fizer, já seremos três. E tem mais, se acontecer algo comigo novamente eu vou gritar e ir atrás dos meus direitos. E, você?
Qualquer tipo de violência acontece com as pessoas quem moram e habitam esse planeta. Nós fazemos parte disso.
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Gleyma Lima é cearense, jornalista e feminista por imposição da periferia. Morou no continente africano e trabalha desde sempre com projetos sociais.