Carolina de Assis relata alguns dos retrocessos na questão do aborto pelo mundo, especialmente em países europeus:
As forças conservadoras que saíram às ruas de Paris contra o casamento igualitário em maio do ano passado voltaram a se manifestar, dessa vez contra a ampliação do direito ao aborto no país. Na França, a interrupção voluntária da gravidez (IVG) pode ser realizada sem nenhuma restrição até a 12a semana de gestação, e no momento discutem-se duas emendas à lei que regulamenta o aborto: a primeira modificaria o texto da lei que estipula que pode realizar o procedimento a mulher que se encontra em “situação de desamparo”. O novo texto eliminaria oficialmente a necessidade de justificativa, estabelecendo que qualquer “mulher grávida que não deseje seguir adiante com sua gravidez” tem o direito de interrompê-la. A segunda emenda propõe a ampliar o delito de impedir o acesso ao aborto; além dos grupos que invadem clínicas onde se realizam as operações, a lei estabeleceria também punição a quem dificultar a obtenção de informação sobre o direito à IVG, medida voltada às associações antiaborto que difundem informações “enganosas ou orientadas”, segundo o governo francês.
Participaram também da manifestação em Paris deputados espanhois do PP, partido do presidente Mariano Rajoy, cujo governo aprovou em dezembro do ano passado o projeto de reforma da lei que regulamenta o aborto no país. Um enorme retrocesso para a sociedade espanhola, o projeto pretende restringir o acesso à IVG, modificando a lei instituída em 2010 pelo então governo Zapatero, que permitia o aborto até a 14a semana de gravidez, em qualquer circunstância, e até a 22a semana se o feto apresentasse deformações consideradas sérias.
O avanço conservador na Espanha ecoa a situação na Itália. Em um país sufocado pela influência do Vaticano, o embate entre o direito de autodeterminação das mulheres e o peso da Igreja Católica fica claro na lei, que prevê o direito ao aborto até os 90 dias de gestação e também a “objeção de consciência” por parte do pessoal médico, que pode se recusar a realizar a operação. Em alguns hospitais do país, o percentual de objeção de consciência chega a 100%, impedindo inclusive o acesso ao aborto às mulheres em risco de morte. As mulheres italianas e as estrangeiras que vivem na Itália se encontram hoje em uma situação absurda: têm o direito a interromper a gravidez mas não encontram pessoal médico disposto a fazê-lo, já que a mesma lei que lhes assegura esse direito dá margem para que elas sejam impedidas de exercê-lo.
[+] Marcha contra o aborto em Paris.
[+] França reabre debate sobre aborto com Espanha como referência.
Agência Patricia Galvão entrevista a socióloga Fátima Pacheco Jordão sobre o tema dos rolezinhos.
Para a socióloga Fátima Pacheco Jordão, no entanto, “tratar esses movimentos como novos, como aconteceu em junho de 2013, resulta em diferentes análises sem que nenhuma delas dê uma explicação razoável ao processo. Algumas falam em manifestação cultural, outras em aspectos de consumismo e novo perfil de consumo, e ficam por aí. Mas o que é preciso entender é que os jovens estão se expressando através da cidade, do espaço público, há muito tempo”.
Fátima Jordão ressalta que a resposta da sociedade também não é nova. “A sociedade não enxerga o jovem, a não ser através dos mecanismos de controle. Nem a mídia, nem o mercado, nem o poder público e as políticas públicas estão contemplando adequadamente os jovens, que correm atrás daquilo de que mais precisam: o direito à cidade. E é isso que mais pega os nervos dos governantes, da classe média, os nervos conservadores”.
Para Fátima Jordão os ‘rolezinhos’ são “uma forma de expressão intrinsecamente política. Não é uma forma de expressão ideológica, mas é político porque querem afirmar: ‘eu existo e tem que ter políticas para mim, representação na mídia para mim, a minha cara na publicidade, produto do meu tamanho’. Não é uma coisa dirigida apenas ao poder público, mas para o conjunto da sociedade conservadora. Nesse sentido, em sua performance, são muito parecidos com os movimentos feminista, antirracista ou ecológico”.
[+] Kaique e os rolezinhos: o lugar de cada um.

Entrevista de Cécile Kyenge, ministra italiana de integração, ao jornal El País.
P: Você decidiu sair do Congo para buscar um futuro melhor e pensou que na Itália podia encontrá-lo. Esta Itália que insulta uma ministra por ser negra, esta Europa onde crescem os populismos, se parece com aquela dos seus sonhos?
R. Estou vivendo momentos tão duros como jamais poderia imaginar. Mas não posso dizer que a Itália é racista por isto, porque ninguém nasce racista. Por isso é tão importante que cortemos todos esses fatores externos de intolerância que separam as pessoas da via da convivência e as fazem tomar a da xenofobia. Temos que conseguir uma Itália e uma Europa melhor, e esse é precisamente o objetivo que estamos levando adiante com a Declaração de Roma, a qual assinamos com outros 17 países para chegar a um pacto entre 2014 e 2020 contra a xenofobia, contra o racismo, pela multiculturalidade, e para colocar a diversidade no centro de tudo.
P. Quando trabalhava como médica, também sofreu com comportamentos racistas?
R. Sim, em princípio, sim. Mas a rejeição foi desaparecendo à medida que as pessoas conheciam a minha forma de me relacionar com elas, meu profissionalismo. Minha ausência de medo. Isto é importante. Não devemos ter preconceitos nem medo.
P. Nem diante das desqualificações da Liga Norte? Culpam a senhora por personificar todos os males da Itália…
R. Me culpam de tantas coisas! Mas, longe de me fragilizar, reforçam a minha identidade. Eu escolhi a Itália para viver, mas minha identidade é múltipla e me sinto cômoda assim. Me culpam de ser negra, de ser mulher e de ser estrangeira. Inclusive de uma quarta coisa: de ter estudado. E esta [diz sorrindo], sim, é uma culpa terrível! Porque segundo o estereotipo, deveria estar limpando a casa e fazendo filhos. Não ser desse jeito me faz imperdoável aos olhos deles.
[+] Retrato das mulheres negras é tema do Panorama Ipea.
[+] A Cadeira Negra de Dasha Zhukova.

- Festival Curta o Gênero 2014 – http://curtaogenero.org.br/
Em 2014, a ONG Fábrica de Imagens – Ações Educativas em Cidadania e Gênero apresenta mais uma edição do Curta o Gênero – Mostra Internacional Audiovisual / Seminário / Itinerâncias. Este projeto multilinguagens convida à transformação de mentalidades através do debate e difusão de obras audiovisuais, fotográficas, cênicas e musicais comprometidas com a denúncia das desigualdades de gênero, com a construção ou invenção de outras representações e interpretações simbólicas baseadas na equidade de gênero e na afirmação da diversidade sexual, ou seja, no exercício pleno da justiça e da liberdade nos campos do gênero e da sexualidade.
Nesse sentido, além da Mostra Internacional Audiovisual, o Curta o Gênero 2014 realiza a terceira edição do Seminário Internacional Gênero, Cultura e Mudança, que fomentará o debate acadêmico e político em torno das relações entre gênero, sexualidade, liberdade, democracia, arte, fundamentalismos, violações de direitos e feminismos na contemporaneidade. Esse universo temático também inspira mais uma edição da exposição fotográfica Contrastes – gênero, tempos, lugares, olhares, que apresenta o olhar de jovens fotógrafos sobre o tema.
Em toda sua amplitude, o projeto Curta O Gênero assume um compromisso sociopolítico com a construção de uma cultura de liberdade, de solidariedade e de justiça entre homens e mulheres em suas múltiplas possibilidades performáticas.
- Eventos
– III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, Londrina/PR – 27 a 29 de maio.
– II Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero, Brasília/DF – 28 a 30 de maio.