Homofobia e Copa do Mundo

Texto de Camilla de Magalhães Gomes.

Uma das manchetes da segunda-feira sobre a Copa do Mundo era: “ONU pede a jogadores homossexuais do Mundial que revelem a sua orientação sexual”.

Sim, seria lindo, simbólico, emblemático. Histórico mesmo. Seria o grande momento da Copa do Mundo, ao menos para mim e para muitos outros. Mais do que uma goleada, mais do que uma vitória. MAS… vai ser difícil. E esse “MAS” é enorme.

No país e no esporte em que a expressão “vai tomar no cu” é considerada um xingamento, uma forma de ofender e/ou humilhar o “inimigo/adversário”, vai ser difícil.

No país e no esporte em que Diego Costa é xingado de “viado” quando entra em campo pela Espanha, como se tal palavra representasse a identificação de uma “traição” praticada pelo jogador que trocou o Brasil por outro país, vai ser difícil. Porque, talvez na lógica homofóbica e misógina, o gay seja um traidor da masculinidade.

No país e no esporte em que Cristiano Ronaldo é avaliado e criticado porque faz a sobrancelha ou porque arruma o cabelo — afinal, essas coisas de “mulherzinha” não cabem no esporte “de macho” — vai ser bem difícil.

Eu sei, ONU, a gente queria. A gente torce mais por um momento desses do que pela taça. A gente sonha com uma ‪#‎CopaSemHomofobia‬ ou qualquer coisa um pouco mais próxima disso. Mas, enquanto a homofobia for defendida no futebol como “parte da tradição”, vai ser muito difícil.

Jogo entre Brasil e México no dia 17 de junho de 2014 pela Copa do Mundo. Foto de Odd Andersen/AFP Photo.
Jogo entre Brasil e México no dia 17 de junho de 2014 pela Copa do Mundo. Foto de Odd Andersen/AFP Photo.

Liderando uma mobilização das Nações Unidas para ajudar a construir um mundo baseado na tolerância e onde lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis (LGBT) possam viver livres da discriminação, o secretário-geral da Organização, Ban Ki-moon, marcou o Dia Internacional contra a Homofobia e Transfobia (17 de maio) com um forte apelo para a ação: “A igualdade começa com você”.

O secretário-geral da ONU lembrou que, muitas vezes, a homofobia é apresentada como uma diversão inofensiva ou como um traço cultural aceito. “Não é. É discriminação”, disse Ban Ki-moon.

“Em 76 países, ter um parceiro do mesmo sexo ainda é um crime. As pessoas são presas, encarceradas e, em alguns casos, executadas, só porque elas estão em um relacionamento amoroso”, disse o secretário-geral da ONU, acrescentando que as pessoas LGBT também enfrentam hostilidades profundamente enraizadas no lugar onde passam a maior parte do tempo – no trabalho.

“Devemos nos perguntar: Queremos viver em um mundo onde o amor é atacado ou onde é celebrado? Onde as pessoas vivem com medo ou com dignidade?”, declarou o chefe da ONU. Referência: ONU pede mobilização global contra a homofobia