Vandalize o discurso de ódio nas eleições!

Texto assinado pelas coordenações das Blogueiras Feministas e do Biscate Social Club.

No último domingo (28/09), foi realizado um debate ao vivo entre os principais candidatos a presidência do Brasil transmitido pela Rede Record.

Ao longo do debate, o candidato Levy Fidelix (PRTB) proferiu diversas ideias preconceituosas. Em relação a usuários de drogas, disse que: “o País tem mais de 1 milhão de drogados apenas nas grandes capitais. Esse pessoal todo não trabalha, não produz nada, além de serem, honestamente, peso para qualquer governo”. Em outro momento, ao elaborar uma pergunta ao candidato Pastor Everaldo (PSC), ofendeu presidentes da América do Sul dizendo que “Evo Morales vai trazer mais cocaína pra cá”, além de chamar Cristina Kirchner de louca. Porém, o pior ainda estava por vir.

Em determinado momento, a candidata Luciana Genro (PSOL) questionou Levy Fidelix: “os homossexuais, travestis, lésbicas sofrem uma violência constante. O Brasil é campeão de mortes da comunidade LGBT. Por que as pessoas que defendem tanto a família, se recusam a reconhecer como família um casal do mesmo sexo?”.

Na resposta, Levy Fidelix derrubou um caminhão de chorume, fazendo relação direta entre o conceito de família com reprodução, além de se referir a homossexualidade como uma doença e relaciona-la a pedofilia. Por fim, ainda bradou que a maioria não deve aceitar essa minoria, que é preciso enfrentá-los. Praticamente conclamando a população para agir com preconceito e violência contra lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans*.
Foto de Danilo Verpa/Folhapress.
Foto de Danilo Verpa/Folhapress.

O silêncio dos outros candidatos

Após essas declarações, houve o momento das considerações finais, mas nenhum candidato usou esse tempo para repudiar veementemente as declarações absurdas de Levy Fidelix. É assustador pensar que NENHUM dos candidatos tenha usado seu tempo para repudiar a fala de Levy Fidelix.

E, se nenhum deles o fez, se ninguém quis marcar posição nesse momento tão importante diante de uma manifestação fascista de um candidato a presidência em rede nacional, então fica difícil endossar as falas e programas dos candidatos quanto ao tema dos direitos LGBT.

É fácil estampar tais temas em programas de governo ou discursos de campanha. O uso demagógico das lutas das minorias não é novidade. Porém, responder de modo enfático e imediato é o atestado de quem tem a sensibilidade para perceber a gravidade do discurso homofóbico, lesbofóbico, bifóbico e transfóbico proferido. E isso não aconteceu.

O candidato Eduardo Jorge (PV) reconheceu em declaração no twitter que errou ao não repudiar o discurso de ódio no momento do debate. Após o debate, Luciana Genro publicou em seu twitter uma mensagem de repúdio. Ao que parece os outros candidatos não irão declarar nada quanto ao que foi dito por Levy Fidelix.

Nessa hora em que alguém mostra todo o seu ódio em rede nacional, não responder só mostra o quanto essa pauta é pequena para a nossa política. Que dia triste esse em que um sujeito incita a violência contra homossexuais dizendo: “Vai para a avenida Paulista, anda lá e vê. É feio o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los”; e assistimos os demais silenciarem.

O discurso de ódio será vandalizado

O discurso de Levy Fidelix é homofóbico e também carrega muitos outros discursos de ódio. Porém, é preciso lembrar que não devemos desumanizar Levy Fidelix, como ele faz quando se refere a gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans*. Esse discurso não é coisa de um monstro horroroso que mora em um lugar distante, ou de apenas um candidato nanico isolado. Não. Esses discursos estão no cotidiano dos corpos marginalizados.

É o discurso que rasga, violenta e mata diversas pessoas todos os dias. Esse discurso não vem só de Levy Fidelix, vem também de nossos vizinhos, amigos, parentes, etc. O que você faz quando alguém diz: “tenho até amigos gays, mas não quero que nenhum chegue perto”? Ou que “respeita, que tolera”, que “não entende como tem homem que gosta de outro homem”, que diz que “a mulher é lésbica porque nunca achou o homem que a pegou de jeito”?

Esse discurso limpinho de tolerância é o suficiente para você? A piada feita com aquelas pessoas que não se encontram dentro de uma categorização normativa de gênero e orientação sexual é engraçada para você?

Apoiamos as diversas manifestações populares em repúdio a Levy Fidelix. Estão sendo organizados desde beijaços na Avenida Paulista até campanhas de denúncias em massa ao Ministério Público Federal. Exigimos que o candidato não possa mais participar dos debates, porque não aceitamos que discursos de ódio sejam proferidos em canais de televisão que são concessões públicas. Isso não é opinião pessoal, isso é violência.

Não, não é fácil ouvir Levy Fidelix fazer um discurso extremamente violento em um debate para candidatos a presidência. Não desce. Não tem como dar conta disso. E por isso, esse tipo de discurso não pode mais ser admitido. Nem no debate de candidatos para presidente, nem por aquele seu amigo do trabalho, nem pelo tio no jantar de família. Não aceite ser tolerado. Não aceite ser apenas respeitado. Nós não merecemos migalhas. Nós merecemos existir da forma que queremos e não dentro dessa categoria normativa que engessa. Vandalize essas categorias e vamos à luta! Vandalizar a política!

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