Não existe mulher fácil ou difícil

Texto de Eduarda Germano.

Uma coisa que tenho ouvido muito ultimamente é: “Hoje em dia as mulheres estão muito fáceis, por isso os homens não querem mais entrar em um relacionamento”. Mas afinal, o que é ser fácil? Ou melhor, qual é a diferença entre uma mulher fácil e uma mulher difícil? É tão fácil assim separar e classificar as mulheres?

Dentro do mundo dos estereótipos e caixinhas, a mulher julgada ‘fácil’ geralmente é uma pessoa que faz o que lhe dá vontade e não liga para a opinião alheia. Já a mulher ‘difícil’ é a que acha que tudo que vem fácil, vai fácil. Para segurar um homem é preciso entrar num jogo cheio de trocas. A questão é que, seja a “fácil” ou seja a “difícil” nenhuma delas está protegida de ser taxada como vagabunda ao menor deslize fora da rota social que as mulheres devem seguir.

Esse julgamento entre quem é “fácil” e quem é “difícil”, muitas vezes é feito pelas próprias mulheres. Julgar umas as outras é um exercício que o machismo estimula, pois quanto mais nos vemos como competidoras em busca de um homem, mais fácil é esquecer de todas as nossas potencialidades. Reproduzir comportamentos e sexismos acaba sendo bem mais comum do que ver a diversidade das mulheres exposta e aceita.

Marcha das Vadias do Rio de Janeiro, 2013. Foto de Daniel Marenco/Folhapress.
Marcha das Vadias do Rio de Janeiro, 2013. Foto de Daniel Marenco/Folhapress.

Se as pessoas vão a balada para ficarem com uma, duas ou nenhuma pessoa. Isso é uma questão pessoal. Se ela faz isso porque gosta ou porque não gosta, também é uma questão pessoal. Cada pessoa tem sua história e sua trajetória, seus dias bons e ruins. O que prejudica as mulheres é usar a sua régua para todo mundo. Porque as pessoas são o que são por diversas razões, inclusive quando reproduzem comportamentos machistas ou não.

Numa sociedade em que quem anda fora da curva sofre sendo apontada em suas diferenças, é comum que muitas pessoas se refugiem em comportamentos machistas na esperança de não sofrerem, mas sabemos que para as mulheres isso não é garantia de nada, pois até por pequenas ações podemos ser condenadas.

Até quando iremos deixar de fazer o que temos vontade por causa do pensamento machista e repressor de grande parte dessa nossa sociedade? Uma sociedade que se importa mais se você foi para cama no primeiro encontro do que se você foi eleita a funcionária do mês na empresa.

Já julguei o comportamento de alguém que só estava fazendo o que tinha vontade. Hoje, com dezoito anos, e um pouco mais madura (mas nem tanto), aprendi que a liberdade sexual é um dos passos mais importantes para a tão sonhada igualdade entre os sexos, e infelizmente talvez seja o passo que daremos por último.

Eu sei que minha geração, por mais liberal que se diz ser, ainda tem a mente quadrada para esse tipo de assunto. Mas eu espero que minha filha, ou minha neta tenham mais liberdade e se sintam mais seguras para tomarem decisões, seja casar virgem ou dormir com mais de uma pessoa numa noite. Cada um sabe o que faz bem para si.

Comecemos por nós, mulheres, que a partir de hoje tentemos perder esse medo do julgamento, que a partir de hoje tentemos fazer o que nos der vontade sem ficar com peso na consciência depois, que a partir de hoje apoiemos umas às outras para tomar a decisão que quisermos para com o nosso corpo, porque ele é NOSSO e de mais ninguém!

Pela liberdade sexual já! E por um mundo onde as mulheres não sejam dividas entre fáceis e difíceis. Que sejam respeitadas em seus desejos, vontades e direitos.

Autora

Eduarda Germano tem 18 anos de total instabilidade. Se descobriu feminista quando disseram que as mulheres não podiam fazer o que tinha vontade de fazer.