Feminismo pra quê?

Texto de Marília Cairo para as Blogueiras Feministas.

Ser mulher por si só remete a muitos rótulos. Esperar que a mulher atenda à padrões estéticos que não a representam, ou que assuma quase que integralmente a educação dos filhos são exemplos corriqueiros. É como uma promessa, como se alguns padrões já estivessem definidos no nosso DNA. Se é mulher, logo…

Mas, no universo de mulheres possíveis, que conquistaram o direito de decidir por si próprias, cabem muitos perfis. Dona de casa. Mãe. Sim. Mas também empreendedora, chefe de família, solteira por opção, e mais o que vier. Mulheres que os antigos modelos já não dão conta mais.

No entanto é fácil ver que, apesar do legado deixado pelas lutas sociais femininas, apesar das suas próprias batalhas pessoais, muitas mulheres ainda se desdobram para atender às pesadas expectativas sociais. É lugar comum falar do sentimento de culpa que acompanha a liberdade de decidir. Seja a culpa por trabalhar e não poder estar com os filhos em tempo integral ou, na contramão, a culpa por priorizar a família, deixando de lado importantes metas individuais.

Uma melhor qualidade de vida da mulher implica na tomada de consciência do seu próprio direito legítimo de escolher, e também na formação de uma estrutura social que acompanhe as conquistas femininas, passando pela igualdade de oportunidades de trabalho e de salários, e pelo compartilhamento de responsabilidades no seio familiar. Então quem sabe poderemos ver relações mais equilibradas e saudáveis para homens e mulheres.

Tudo bem ser dona de casa ou mãe em tempo integral. Talvez para muitas mulheres estar no mercado de trabalho ou viajar o mundo não represente um ideal de vida. Porém, a questão fundamental é permitir que cada uma possa fazer a sua escolha, sem condenações ou represálias, e com igualdade de oportunidades. É este direito que muitos movimentos a favor do empoderamento feminino querem preservar. Por que é a visão da mulher como objeto, no lugar de alguém com autonomia e desejos próprios, que financia relacionamentos abusivos, violência doméstica, feminicídios. Afinal, num tempo em que falamos tanto em equidade e democracia, estes não seriam possíveis se os direitos civis, políticos e sociais das mulheres não fossem respeitados.

A igualdade de gêneros pode ser vista, também, como uma questão econômica. Segundo o estudo Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo – Tendências para Mulheres 2017, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma redução de 25% na desigualdade de participação de homens e mulheres no mercado de trabalho, até 2025, permitiria aumentar o PIB brasileiro em 3,3%, equivalente a R$382 bilhões. Países do G-20 firmaram pacto para buscar diminuir esta diferença, adotando os Princípios do Empoderamento Feminino.

Os preconceitos de gênero produzem efeitos negativos nas esferas coletiva e privada. Contribuem para a violência doméstica e feminicídios. Relações desajustadas, lares disfuncionais e desencontros motivados por modelos de comportamento equivocados. “Homem não chora” ou “mulher só é mulher se for mãe” são ideias que escravizam, que limitam a beleza de uma expressão sincera do indivíduo. Buscar relações mais leves e participativas, onde cada um possa manifestar a sua individualidade, independentemente do gênero, é promover saúde, respeito e democracia. Então, feminismo sim. E não é só coisa de mulher.

Autora

Marília Cairo se formou em Produção Cultural em 2009 e em Jornalismo em 2014. O universo das palavras é o seu lugar de paz e transformação. Escrever é uma maneira de reviver os acontecimentos, de brindar à vida, de ver por outro ângulo, de expurgar o que ficou acumulado das experiências vividas. Uma aventura…

Créditos da imagem: Rio de Janeiro, junho de 2016. Ato no Centro do Rio, contra o machismo, a cultura do estupro e em defesa dos direitos das mulheres. Foto de Nicolás Satriano/G1.