Texto de Jennifer Lucarelli para as Blogueiras Feministas.
Passei a maior parte da minha adolescência me perguntando sobre o comportamento de determinadas meninas, com as quais convivia na sala de aula durante o ensino médio. Sempre observava as que ficavam com vários meninos, as que beijavam meninos que nem conheciam direito, as que sempre saiam para passear a noite aos finais de semana, as que namoravam vários em curto espaço de tempo, as que eram tidas como bonitas — dentro do padrão para estabelecido como o certo, as que de alguma forma eram aquilo que a sociedade pregava como PUTA.
Mas as coisas mudam, o acesso a informação se torna cada vez mais fácil , rápido e a militância chega às redes sociais: meu corpo minhas regras, mulheres emponderadas e liberdade sexual? Liberdade? Que liberdade? Será que é liberdade mesmo? Ou será que ao ser livre sexualmente também estou me acorrentando ao dever de satisfazer homem para me sentir desejada, amada e aceita? Fala-se de liberdade sexual, mas não se fala de educação sexual , de conhecer seu corpo, seus limites e sobre ter prazer.
Então, quando se é insegura, você satisfaz o outro para ter aprovação, mas eu me aprovo? Cadê minha liberdade de não querer fingir um orgasmo? Afinal, será que preciso de um orgasmo? Como vou saber se o que me vendem é uma falsa liberdade de que eu posso ficar com todo mundo, mesmo sem conhecer meu corpo?
És puta, és puta e és puta! Quando falamos sobre isso, quando diz não e quando diz sim, quando não aceita ser tratada como lixo, quando aceita a solidão. És puta.

Por que só julgam a mim quando um relacionamento não dá certo? Por que sou sempre eu a errada? Sou sempre taxada de puta e o outro nada? Chamada de puta por mulheres que deveriam me orientar, educar e aceitar. Chamada de puta pela família, amigos e homens que diziam me amar.
Sou puta quando escrevo esse texto, sem derramar uma lágrima com o coração em cacos, tendo que juntar cada pedaço sozinha. Sou puta que sem conhecer seu corpo direito satisfez o outro, sou uma puta porque não sei lidar com minha dores e recorri ao feminismo. Para a sociedade, então, eu sou uma puta, feminista e porca. Acordo me sentindo puta e durmo me sentindo puta. Mas estudo, trabalho e provavelmente não serei o amor da vida de ninguém, uma puta, que se fez em pedaços porque não tinha apoio de ninguém, que acorda sozinha, dorme sozinha e se cura sozinha.
Puta, ela é.
Autora
Jenifer Lucarelli tem 23 anos. É feminista negra e futura farmacêutica.