O feminismo das batalhas cotidianas

De tudo o que se pode dizer sobre o feminismo, acho que o mais importante é que não é uma coisa só. Não é certinho, uniforme, não tem uma só cara, um só tipo, uma fôrma. Não é o movimento da tomada do Estado. É o movimento das batalhas cotidianas.

O movimento feminista foi um dos movimentos mais bem-sucedidos do século passado. O voto feminino, a possibilidade de acessar espaços de poder através de implementação de cotas em diversos países, a maior liberdade sexual e o reconhecimento da violência doméstica como uma questão pública estão entre as conquistas. Hoje muitas outras bandeiras ainda são empunhadas, algumas bem polêmicas, além dos esforços somados com outros movimentos, como o movimento de lésbicas, o movimento negro, entre outros.

Foto de Nathália Eberhardt Ziolkowski na sua página pessoal do facebook.

O feminismo nos põe para pensar que nenhuma mulher pode ser discriminada ou sofrer violências, sejam elas físicas ou simbólicas, simplesmente  por ser mulher. Que homens ou mulheres tem lá as suas diferenças físicas, mas isso não determina quase nada, porque as pessoas podem ser diferentes, podem querer outras coisas, podem inclusive ter outro gênero, sem que isso possa ser motivo para a discriminação.

O poder que o feminismo quer destruir é o poder do patriarcado. Esta estrutura, traduzida de diferentes maneiras, que diz que a mulher tem um lugar, um papel no mundo, um jeito de ser e de sentir, que tem que se comportar de determinada forma e que precisa aceitar isso (a coisa é ruim assim mesmo).

E a solução para acabar com o patriarcado não é só ir lá e tomar o Estado, como queriam fazer os comunistas há anos atrás (e ainda querem, na verdade). Não é só derrubar o capitalismo  (embora esse pareça ser um grande passo  para a tão sonhada liberdade). Não é só garantir que lá na Constituição que todos são iguais perante a lei e não ter nada de efetivo nisso. Nossa luta contra o patriarcado é composta por inúmeras batalhas cotidianas e por isso usamos as armas (pacíficas*) que temos: escrita, fala, presença, atitude, militância e o nosso corpo. Cotidianamente,  porque o machismo se esconde nos lugares mais inesperados, inclusive nos discursos de gente conhecida de outras batalhas.

É melhor dizer logo, não engano ninguém dizendo que ser feminista seja uma coisa fácil. Muitas vezes exige enfrentar mãe e pai, amigos e amigas, pessoas queridas de um modo geral, ficar estigmatizada como a chata e ser enquadrada em um monte de rótulos nada agradável. Resumindo, exige muita disposição e capacidade de transformar a frustração em energia para continuar lutando.

A contrapartida, minha amiga, é que abre os olhos para um punhado de coisas. Dá uma noção de poder danada e se pá uma liberdade tremenda também. É emocionante, muitas vezes. E para quem não tem essa mania de viver para agradar os outros, quem acredita que tem alguma coisa para fazer de diferente no mundo, vale muito a pena se alistar para construir essas trincheiras.

*Eu queria muito viabilizar a ideia de uma guerrilha feminista, pegar em armas e tal, mas acho que esse projeto é polêmico e precisa ser discutido.