O que uma mãe no pós-parto realmente precisa

Texto de Sarah Bregel. Tradução de Iara Paiva. Publicado originalmente com o título: ‘What Postpartum Moms Really Need’ no site Huffington Post em 19/05/2014.

Sarah Bregel e seu bebê.
Sarah Bregel e seu bebê.

Quando eu me tornei mãe, na madura idade de 24 anos, fiquei contente em me despedir de uma gravidez difícil e abraçar as alegrias da nova maternidade. Mas, enquanto as alegrias eram muitas, muitos também eram os desafios. Eu achava que tinha sido adequadamente preparada para atingir todo um novo nível de privação de sono, para alimentar alguém com meu próprio corpo mais do que me alimento, de responder a cada comando sem esforço.

Agora, a palavra “preparada” parece ridícula usada no contexto de se tornar mãe — literalmente, tornando-se uma versão totalmente nova de si mesma, trocando sua pele velha para dar à luz a mãe em você desde o momento de dar à luz ao seu filho. Não há maneira de se preparar para a maternidade e quisera eu que soubesse disso antes. Mas também gostaria que eu tivesse sabido pedir ajuda.

Não importa em que idade você se torna mãe, é muito parecido com ser jogada aos lobos. Mas ninguém realmente fala sobre isso dessa forma. Todo mundo falou sobre a felicidade do bebê, o amor que eu sentiria, a alegria, os instintos naturais. E enquanto eu certamente sentia essas coisas, também me senti esgotada, sobrecarregada, exausta e completamente sozinha. Mas o pior é que essas emoções me faziam sentir fracassada, porque eu não “deveria” me sentir assim. Pelo menos ninguém tinha me avisado que eu sentiria isso. Todo mundo presumia que eu estava muito feliz e por isso encenei esse papel.

O fato da cultura nos Estados Unidos não cuidar das mulheres no pós-parto não ajuda. Normalmente, espera-se que as novas mães estejam de volta à ativa rapidamente. A licença maternidade remunerada é péssima em duração e valores quando comparada com outros países — isso quando chega a ser oferecida. E, apesar de termos algumas das mais altas taxas de intervenções no parto, que implicam em tempos de recuperação mais longos e mais esforços emocionais no puerpério, ainda esperamos a mãe brilhante e o bebê feliz quase imediatamente.

Enquanto outros países mimam mulheres no puerpério, reúnem-se em torno delas e consideram o pós-parto mais como um ano do que as nossas típicas seis semanas, nós dizemos as mulheres para voltarem a si, voltarem ao trabalho e voltarem para a academia. Nós contemplamos as capas de revistas com barrigas lisas e louvamos mulheres que passaram um pós-parto tranquilo: “ela recuperou sua forma em apenas oito semanas — bom para ela”. Mas será que é? Bom? Para alguém?

Se este é o nosso padrão, o que estamos fazendo com as mulheres que não correspondem a ele? Que são, na verdade, a maioria delas? Quatro anos e meio depois de me tornar mãe e assistindo amigas seguindo pelo mesmo caminho, eu sei que isso é verdade. Chegamos na maternidade esperando nos recuperar rápido e quando não conseguimos nos sentimos confusas, tristes, ansiosas e cheias de culpa. Pergunto onde estão nossos corpos, o que aconteceu conosco e por que isso é muito mais difícil para mim do que para as outras mulheres? Por que nossos bebês não dormem a noite toda com apenas alguns meses de idade? E o que estamos fazendo tão terrivelmente errado?

Por alguma estranha razão somos ensinadas a fingir que é moleza. Somos ensinadas a fazer com que pareça fácil, mesmo que isso signifique dessintonizar o choro dos nossos recém-nascidos em um esforço para obter uma boa noite de sono. Mesmo que isso signifique passar para as mamadeiras antes de estarmos prontas, porque assimilar a volta ao mundo com mamas que nos fazem parecer mais como gado do que com mulheres não é tão agradável como pensávamos. Quando para todos os lugares onde olhamos a sociedade nos diz para nos cobrirmos e nosso trabalho não nos apoia em nossos esforços para alimentar nossos bebês, por que seria agradável? Enquanto, para a maioria das novas mamães, o pensamento de entregar seus recém-nascidos ao final de seis semanas é aterrorizante, costumamos dizer às mulheres que vai ser bom para eles. Em essência, somos ensinadas a parecermos mais adaptadas do que estamos. Somos ensinadas a sair de nossos roupões, entrar nos nossos jeans justos, sair de casa e voltar ao mundo na velocidade da luz.

Para muitas de nós é muito cedo e ainda não estamos prontas. O mundo nos quer firmes em nossos pés, quando alguém deveria estar massageando-os. Passamos por uma das maiores mudanças que a vida pode nos trazer, mas com expectativas irreais e sem suporte adequado pode ser mil vezes mais difícil do que jamais imaginávamos.

O que as mulheres no pós-parto realmente precisam é de compreensão, e não da expectativa de que devemos estar prontas para uma foto, quando a única coisa para qual estamos prontas é um cochilo. Precisamos de pessoas com quem conversar sobre o quão difícil este momento é, não de quão felizes devemos estar. Precisamos de tempo para abraçar nossos bebês, em vez do estresse de pensar em outras coisas que deveríamos estar fazendo ou quão para trás estamos ficando. Precisamos de oportunidades para conversar, desabafar, chorar e sentir, saber que está tudo bem. Precisamos de uma sociedade mais acolhedora que não se incomode com seios alimentando bebês, tanto quanto não se incomoda em vê-los em revistas e filmes. Precisamos de mais pessoas que façam nossa comida, do que as que esperam para pegar nossos recém-nascidos no colo. Precisamos de parceiros que acordam no meio da noite para fazer uma massagem nas costas ou nos incentivar com um: “você está se saindo muito bem”. Precisamos de amigas que dizem; “eu passei por isso”. O que as mães no pós-parto realmente precisam é de um mundo que nos permita ser mães de todos os ângulos, mesmo que isso não seja tão bonito como queríamos acreditar.

O pós-parto é um momento muito importante e precisamos começar a tratá-lo como tal. Estou me preparando para minha segunda experiência, desejando que seja um pouco menos tumultuada que a primeira. Mas, desta vez, não vou colocar um sorriso no meu rosto a qualquer custo. Vou me dar o tempo para me recuperar, me cercando de pessoas que sejam compreensivas e realistas, mesmo que isso signifique balançar um camisolão durante três meses. Só tenho que avisar a US Weekly, meu empregador, que só volto no outono.

Autora

Sarah Bregel é escritora, professora de yoga, personal, feminista e na maior parte do tempo morou em Baltimore. O nascimento de seu primeiro filho em 2010, levou ao nascimento de sua carreira como escritora quando ela percebeu que ninguém queria ficar constantemente falando sobre partos, bebês e as dificuldades que envolvem a maternidade. Então, ela começou um blog: TheMediocreMama.com. Conheça-a também no twitter (@SarahBregel) e no Facebook (https://www.facebook.com/themediocremama).