Tarantino e o Feminismo

Texto de Kori Ramos.

Bom, tenho experiência com blog de assuntos pessoais, amores, desabafos e essas coisas. Mas falar de feminismo e de filmes é algo que, apesar da falta de experiência, me agrada, por isso estou aqui.

Bom, é inegável que, quanto mais você conhece o feminismo, mais ele cria um filtro em você. O que é ótimo, e, apesar de gerar revolta com tanto machismo, também me alegra quando percebo algo feminista, principalmente quando se trata de mídia e temas geeks, como seriados e filmes.

Feita a introdução, estou aqui para escrever sobre Quentin Tarantino e o feminismo. Claro que, na internet, existem muitos textos sobre ele. Não sou nenhuma expert, mas gostaria de compartilhar minha opinião com todas as 2 pessoas que provavelmente estão lendo este texto já prolixo e nem na metade.

Pois bem, Tarantino, um grande diretor, começou sua carreira como mais um homem numa área masculina, que é o cinema (assim como muitas outras, infelizmente), com um bom filme, Cães de Aluguel, mas que é de um homem para homens.

Logo após veio Pulp Fiction, com uma personagem mais forte, Mia Wallace, feita por Uma Thurman, que iria posteriormente trabalhar novamente com ele e nesse filme mesmo sendo minoria, ganhou voz.

Em 1997, com Jackie Brown, o papel feminino nos filmes de Tarantino, ganha, finalmente, uma protagonista. Jackie Brown (Pam Grier, de L Word) faz uma comissária de bordo que trafica dinheiro. O filme foi escrito especialmente para ela no papel (particularmente, gosto da atriz e do roteiro, do filme não gostei muito, mas o fato de eu ter visto dublado porque a legenda não pegou, provavelmente  ajudou).

À esquerda, cena de Kill Bill, volume I (2003). À direita, cena de Bastardos Inglórios (2009).

Depois vieram Kill Bill volumes 1 e 2. Uma Thurman de volta, agora como a Noiva, uma assassina em busca de vingança. E seria um tema batido se fosse um papel masculino, mas esse, além de ser uma homenagem aos filmes de kung fu antigos, tem muitas personagens fortes. Além da própria noiva, suas inimigas: Vernita Green (Vivica A. Fox), uma ex-assassina agora mãe de uma menina, Elle Driver (Daryl Hannah), que apesar de ter perdido um olho por ter desafiado seu mestre, não se intimida com nada. Oren Ishi (Lucy Liu, das Panteras),  que viu sua família ser massacrada e então tornou-se uma guerreira – e isso é mostrado num anime dentro do filme -, vira uma mafiosa e, depois de colocar um exército de homens contra a noiva, é só com a sua protegida, Gogo, que a luta é tensa. Essa luta acontece numa festa com uma banda de mulheres tocando: 5.6.7.8’s

A Noiva também é enterrada viva, livra-se e ainda vinga-se de um enfermeiro que “cuidava” dela no hospital (e por cuidar leia-se cobrar para outros a estuprarem enquanto ela está em coma). Depois de livrar-se do cara, ela foge com o carro dele, o infame Pussy Wagon (que Lady Gaga usou em Telephone, mas aí já rende um outro post).

Seu último filme, Bastardos Inglórios fala sobre guerra e isso geralmente faz com que a mulher seja, se tiver alguma notoriedade, a mulher que ama o soldado que está na guerra, uma enfermeira ou a enfermeira que é a mulher que o soldado ama, mas nesse, uma das personagens principais, Shoshanna (Mélanie Laurent), é uma judia que apesar de reconstruir a vida dentro de uma Europa nazista, quer vingança contra o coronel que matou sua família.

Ela troca de identidade, vai para Paris, vira dona de um cinema e taca fogo em tudo enquanto uma sessão de filme nazista é exibida (e que ela aceitou passar justamente para esse fim). A película ainda é modificada e ela introduz um recado para todos que estão lá dentro, num revisionismo histórico excelente.

Mas de todos os filmes de Tarantino, o que considero mais feminista é seu penúltimo, Death Proof – À Prova de Morte. A ideia nele é homenagear filmes de baixo orçamento dos anos 70 com mortes e carros exibidos nas sessões dos Drive-ins americanos (uma forte influência é mais uma exceção desse gênero: Faster, Pussycat! Kill! Kill!, com três strippers que fazem racha com um cara e sequestram a namorada dele). O filme fala sobre um misógino, Stuntman Mike (Kurt Russel), que com seu carro blindado de dublê, gosta de matar mulheres.

Cena de ‘Death Proof’ (2007).

Na primeira parte, temos a mórbida visão do seu deleite: mulheres perseguidas e mortas; na segunda, a reviravolta. É devido a essa parte que eu chamo Death Proof de Thelma & Louise Sanguinário. Mais um grupo de meninas é perseguido pelo Stuntman Mike, só que essas percebem a tempo e dão uma lição nele (melhor falar desse jeito ou começo a sessãodatardear, falando que é grupo que se mete em confusão que até Deus duvida e etc). E aí, o filme é todo delas, os diálogos Tarantinescos, os carros, a ação, tem tudo lá, mas agora com mulheres exercendo os papéis principais: discutindo conforme as regras da Lei de Bechdel sobre um filme que valha a pena ser visto por mulheres:

– tem mulheres,

– que conversam umas com as outras,

– sem ser sobre homens.

É claro que existem cenas machistas e dispensáveis nos filmes que citei, mas algum valor tem que ser dado para esse diretor que adora Xena, A Princesa Guerreira.