Não são raras as vezes em que sinto uma certa “vergonha alheia” da minha geração. É que eu, do alto do meu idealismo, sempre acreditei que nós jovens seríamos talvez os principais responsáveis por mudanças significativas da nossa sociedade. A História nos mostra que num passado não tão distante assim, isto foi possível. Contudo, quando paro para observar a atitude e o comportamento preconceituoso e tacanho de indivíduos que poderiam perfeitamente fazer a diferença, o desânimo é inevitável. Uma situação que vivenciei nesta última semana ilustra muito bem a minha afirmação.

Eu estava num ônibus, a caminho de uma consulta médica. E em São Paulo, já não há mais horário considerado ” de pico” para trânsito ou para conduções lotadas. Consegui um assento vazio, sentei-me e logo atrás de mim, havia um trio de rapazes aparentando ter 17, 18 anos. E eles riam e falavam tão alto que involuntariamente, acompanhei toda a conversa. E não pude deixar de ficar indignada com o que falavam. Falavam de uma garota com quem aparentemente um deles havia saído e da seguinte forma: “vaca tem que ser tratada assim mesmo”, “ninguém mandou ela ficar “esfregando” na sua cara”, “mina” dessas só merece ser zoada, levar um “trato” e ser jogada no lixo, como lixo que é “. E assim foi ao longo de todo trajeto.
Para muitos, isso pode parecer normal para um grupo de rapazes, já que a costumeira permissividade dos valores patriarcais em relação aos homens ensina que todo homem deve mostrar seus “feitos” aos amigos. Mas não é: este é um exemplo claro de um machismo exacerbado. Machismo que tem grande potencial para gerar casos de violência mais extremos. E é através deste machismo que muitas famílias ainda norteiam a criação de suas crianças e naturalizam ações que deveriam ser coibidas.
Se este fosse um caso isolado, se fosse apenas um grupinho de garotos fazendo comentários imbecis sobre alguém o problema seria “menor”. Mas vejo situações similares em muitos lugares. Vejo na TV, na rua, na minha família, nas minhas relações sociais. E é decepcionante constatar que tal postura vem de jovens. Principalmente deles, que parecem estar cada dia mais preconceituosos, mais machistas, mais violentos, mais estúpidos. E muito, mas muito menos abertos para uma reflexão. E muito menos tolerantes em relação às diferenças. E no caso dos rapazes do ônibus, não estranharia se eles fizessem também declarações homofóbicas ou racistas.
Além da vergonha, do desânimo e da revolta há também a sensação de impotência. É muito difícil conscientizar as pessoas. Juro que quando ouvi as palavras daqueles garotos eu me senti desrespeitada e humilhada, sem ter o que dizer. Desrespeitada por ser vítima da falta de educação e de bom senso de pessoas que me obrigaram a ouvir com riqueza de detalhes, fatos sobre suas vidas particulares pela simples razão de estar em um lugar próximo. E humilhada por pensar que a menina de quem falavam poderia ser uma amiga, uma parente ou qualquer outra que provavelmente cometeu o “pecado mortal” de exercer livremente a sua sexualidade. E infelizmente, nós mulheres estamos sujeitas a conhecer um indivíduo semelhante aos supracitados a qualquer momento.
Espero um dia poder ter a certeza de que as coisas realmente mudaram. Que pelo fato de ser mulher e livre, não serei a “piada da vez”, ou o “troféu” de alguém. E espero também que a minha geração seja menos bizarra. Será que é muito otimismo da minha parte???