A gente também se oprime

Nos meus engatinhamentos em direção ao ativismo feminista, tendo descoberto muitas coisas legais. Uma coisa já aprendi e estou muito satisfeita: não, eu não quero e não vou ser Amélia. Seja ela mulher de verdade ou não, não é isso que quero para mim.

Foto de Robert Wade no Flickr em CC, alguns direitos reservados

Há um tempo atrás, ainda casada, me sentia na obrigação de ser a primeira a acordar (para preparar o café da manhã dele), fazer mil malabarismos, lavar, passar, cozinhar, limpar a cozinha, arrumar cama, limpar banheiro, limpar caixa de areia dos gatos, etc etc etc. Minha frase mais proferida o dia inteiro era: pode deixar que eu faço. Fazia tudo. Em casa, no trabalho. Eu tinha na minha cabeça que minha missão nessa terra era servir. Servir ao meu marido, no caso. E sabe que isso me matava, porque – adivinha só – eu nunca consegui ser boa em tudo. Sempre faltava alguma coisa. Ou eu não era 100% boa no trabalho, ou não era 100% boa dona de casa, e a sensação de frustração era constante. Sempre falhando, sempre me sentindo péssima.

Eu acho que não foi tanto o feminismo, mas o cansaço que me fez desistir. E o cansaço era tão grande, o tempo inteiro, que eu simplesmente ia deixando as coisas de lado, e não fazendo. Interessante que eu EM NENHUM MOMENTO pedi ou exigi que ele assumisse a parte dele. Essa incompetência era problema meu, e o que eu não conseguisse fazer hoje, bem, acabaria fazendo amanhã, ou quando estivesse menos cansada.

Os meus problemas com relação a jornada dupla de trabalho dentro DAQUELE relacionamento eram totalmente “da minha cabeça”. Era a MINHA concepção do meu papel na sociedade e dentro do relacionamento. Foi o que EU aprendi, direta ou indiretamente e o que EU achava que tinha que acontecer para relacionamentos darem certo. Nem sempre a gente é vítima dos outros. Às vezes somos vítimas de nós mesmas.

Pois eis que algo inusitado aconteceu. Eu abri espaço, baixei a guarda e, sem precisar dizer ou chorar ou pedir ou exigir nada, o equilíbrio dentro da minha própria casa aconteceu. Enquanto eu achava que tinha um companheiro machista e “abusivo”, na verdade eu é que o prendia nessa condição, ficando braba cada vez que ele entrava na cozinha, impedindo que ele fizesse coisas que queria na casa, etc. Como se participando das atividades domésticas, ele estivesse tirando de mim a condição de mulher, como se eu fosse menos namorada ou se eu simplesmente perdesse a utilidade no relacionamento. Se eu não deixar a casa arrumada, qual é a minha função?

Aliás, esse é um questionamento que eu me faço até hoje, e é muito difícil mesmo se livrar de conceitos tão entranhados no meu comportamento, na minha mente.