Corpos pintados

A tatuagem é uma arte milenar, que se encontra em todos os continentes, com simbologias e técnicas diversas. Se espalhou pelo ocidente, da forma como a conhecemos, no final do século XIX, mas era considerada coisa de “bandido” e outras pessoas marginalizadas – prostitutas, marinheiros, outsiders em geral. Os marinheiros europeus passaram a tatuar cenas de monstros marinhos, âncoras, etc e durante um bom tempo, mulheres tatuadas eram atração de circo.

Acerte a qual BF pertence cada tatuagem e ganhe um beijo virtual! (esta está muito fácil...)

Atualmente, tatuagem é uma coisa comum, mais em determinados círculos, menos em outros, e rende bem menos estigmas. Mas ainda rende.

Tenho um círculo de amigas lindas, mas mais, digamos, conservadora. E uma delas, certa vez, quis me arranjar um encontro às escuras com um cara do trabalho dela. Disse que nós tínhamos tudo a ver. E que inclusive, ele não ligava para tatuagens. Oie.

Estou planejando uma nova tatuagem. Na minha pesquisa por ideias e tamanhos, encontrei a bizarra distinção entre desenhos marajoara, colorido, oriental, p&b, diversos, coberturas, maori e FEMININO.

Como assim, feminino?

[Pausa para cair a ficha.]

Outra blogueira querida...

Lógico que tem que ter uma seção só com borbolinhas, fadinhas, florezinhas, tudo inha, pequenininha, delicadinha. De mulherzinha, né? São lindas, claro, mas achei meio limitador… e extremamente machista (tá, EU vejo machismo em tudo… só que não).

Essa blogueira é lindona e tem um style e um gosto divino para sapatos.

Se uma mulher quer fazer uma tatuagem gigante, de um dragão nas costas, tipo, ahn, Lisbeth Salander, pode sempre aparecer um “especialista” dizendo que isso é um desejo de automutilação ou coisa que o valha.

E a outra via também é bem cruel, também. Se um homem faz uma tatuagem menor, ou menos “macha” (o que quer que seja isso, né?) muita gente vai dizer que é coisa de”mulherzinha” – obviamente, querendo dizer homossexual, em um tom pejorativo.

“Como a maioria das mulheres gosta de tatuagens pequenas e delicadas, estão sempre fazendo uma nova que viram na novela, ou chegam perguntando ‘o que está saindo mais, trevo ou laço?’. Mas isso também vale para homens, com a diferença que a maioria acredita que ‘homem tem que ter tatuagem grande, se não pega mal’, mas se repete a cena de fazer a mesma tatuagem que um jogador de futebol ou ator da TV.”

Lindo!

O mercado de body art ainda é muito masculino. Ainda bem que está mudando, mas tem este texto aqui, que achei muito legal, no qual a autora fala sobre “três ou quatro ceninhas de machismo“. A cena de a pessoa perguntar pelo tatuador é bem familiar para mim, que também estou em uma profissão ainda predominantemente masculina…

Tatuagens são uma coisa pessoal, pra mim, ao menos, e não determinam, por si, o caráter ou a personalidade de uma pessoa. Explicitam, sim, o estilo, o gosto, a ideologia.

Essa também está fácil de descobrir!

Quer fazer?

Tatuagens são assim: ou fica bom, ou fica uma porcaria. E não só no design, no lugar, na qualidade da tinta (isso também, claro).

Tatuagens são para sempre.

É preciso sim, escolher com muito cuidado o que fazer, onde fazer, e quem será o artista. Lembre-se que até sai, mas é caro, pode ficar cicatriz e dói pacas. Saiba o que quer, mesmo, antes de fazer. E lembre também que você vai ver aquilo o tempo todo, dependendo do lugar onde fez, e pode enjoar…

Tatuagem dói.

Poxa, são agulhas enfiadas na sua pele. Se você se depila com cera, ou se tira fios da sobrancelha com pinça, vai entender a intensidade de dor de que estou falando. Logo, dói, mas não é insuportável.

Essa ainda está em fase de acabamento... vai ficar lindona!

Tatuagem é caro.

Sim, é. A tinta, a limpeza, a qualidade do trabalho, tudo isso custa caro.  A higiene é um preço baixo a se pagar se em vez de uma tatoo bacana, você sair com um membro inflamado, ou com hepatite, ou com HIV.

Decidiu? Quer mesmo fazer? (EU QUERO SIM SIM SIM!)

Então, sinta-se livre!

Essa vai ser difícil... Fica escondidinha!

Livre para pintar seu corpo, de forma permanente ou não. Livre para fazer o desenho que quiser, onde quiser. (Claro que não podemos esquecer que ainda existem, sim, trabalhos onde tatuagens e outros tipos de arte corporal são mais ou menos aceitos, e que somos livres, sim, mas temos consequências sobre todos os nossos atos – e aí, vale tanto para mulheres quanto para homens. Exigências sobre padrões estéticos, infelizmente, existem, ainda. Neste post, o autor, que é policial militar, fala sobre a questão da tatuagem especificamente em cargos policiais, e sobre alguns estigmas existentes no meio. É bem legal. Em muitos concursos, já está caindo a proibição de tatuagens (ainda bem, né? Constituição Federal de 1988 na área, gente, igualdade e não-discriminação!)

Porque estou falando desse tema neste blog? Porque feminismo é igualdade, ora. E liberdade!

Se você quer uma, sinta-se livre.

Quer liberdade mair que ter asas para voar para onde quer? (Dica: essa blogueira é uma gata de olhos verdes)

Seguem alguns links para trabalhos de tatuadoras

Female Tattoo Artists – Reino Unido

Claudia Tostes, tatuadora mineira, de Uberlândia, tem um blog ótimo, já linkado acima.

E alguns artigos sobre tatuadoras e tatuagens em mulheres.

O que piercing e tatuagens dizem sobre uma mulher?

Tattoo pra ser igual

Suicide Girls – tattos lindas, pensa que o “não-convencional” se refira somente às tatuagens, porque no resto, o padrão magra-jovem está presente. Onipresente.

 

[Todas as fotos deste post são do arquivo pessoal da autora, feitas durante o 1º Encontro Nacional das Blogueiras Feministas, realizado em São Paulo, no Instituto Rosa Luxemburgo, em outubro de 2011]