Um Natal seria fácil de explicar se ele fosse realmente um único Natal, de um único significado para todas as pessoas que vivem esse ritual. Para uns, é o momento mais importante do Cristianismo, simbolizando o nascimento do seu máximo profeta, para outros é o momento de colocar roupa nova e catar as passas do arroz, para alguns outros ainda é o momento de se endividar para os próximos doze meses parcelando compras em muitas vezes sem juros.

Mas independente da orientação religiosa, ou da ausência dela, existe uma profunda dicotomia entre o significado empírico do Natal, que é de doação ao outro e o significado prático e moderno da comemoração – olhar o outro fica muito difícil quando a maior preocupação é o maior presente, com o melhor embrulho, ou se vão te dar uma porcaria de presente de amigo oculto enquanto você só dá “presentes bons”.
O Natal da maneira que acontece hoje só serve para reforçar estereótipos e cristalizar preconceitos: as mulheres devem estar impecavelmente arrumadas, penteadas, e cuidando dos afazeres que envolvem a alimentação da família. Devemos consumir sem consciência e fazer a economia girar a qualquer custo (ou você acha que alguém pensa que aquela blusinha na Zara foi produzida por um Boliviano num porão enquanto sua mãe assa um peru?) e principalmente: devemos, bovinamente, aceitar todos esse padrões e regras sem questionar pelo bem e manutenção da instuição nuclear da familia.

Não me atrevo a dizer que Natal é uma porcaria. Para muitas pessoas Natais são fonte de conforto, alegria e contentamento. A questão é o tipo de padronização que não permite que a data seja vivida com plenitude e vontade.
Para não sermos assombrados pelo espírito do Natal Passado, tal qual o avarento Scrooge, que tal pensar no real significado dessa data para você? Questionar o que é dito como o Natal perfeito, e o que é certo e sim viver o Natal o que te faz bem de verdade.
Você se senta à vontade dando uma cesta básica para uma família pobre e nunca mais pensando no assunto? Você acha normal que todos os homens da família fiquem vendo especial do Roberto Carlos enquanto as mulheres vão lavar uma pilha de louça? Você realmente sente que comprar um monte de presentes vai fazer as pessoas mais realizadas ao lado da árvore?
Se a resposta é sim, tudo bem. O Natal se transmuta e se torna aquilo que queremos dele. Mas se a resposta é não, (ou quem sabe um talvez) que tal começar a mudar e fazer o Natal que você acredita? Certamente será um Natal mais verdadeiro, mas nem por isso menos bonito e feliz.
Esse texto foi escrito a quatro mãos com a Thayz Athayde.