Quando comecei a ver a série “The Good Wife“, confesso que o título me deixou com o desconfiômetro feminista ligado. Afinal, ‘A boa esposa’ é algo que nos remete àquele modelo patriarcal machista que reina em nossa sociedade. Lógico que, quando nos deparamos com a Alicia (Julianna Margulies) e toda a sua passividade não podemos achar outra coisa. (Aviso: o texto contém spoilers).
O drama é típico: traída, com filhos e tendo que retornar ao mercado de trabalho. Em suma, o perfil das ‘boas esposas’ que abdicam de si em detrimento de um casamento. Não bastasse tudo isso, seu marido é um ‘Homem Público’ e todo o seu drama é altamente exposto na mídia, o que torna a sua vida um pouco mais difícil. Confesso que o fato da protagonista ser advogada foi o que mais me interessou a prosseguir, além de que a série foi uma indicação do meu boyfriend.

Um caso que ilustra bem um dos dilemas que foram enfrentados pela protagonista, aconteceu no quinto episódio da primeira temporada, chamado Crash, para solucionar um caso jurídico de um acidente de trem provocado por negligência de um engenheiro, ela teria que expor a vida de uma mulher casada que traía o marido com seu colega de trabalho, o que acabaria destruindo uma “família perfeita” assim como aconteceu com ela. Uma das características marcantes da personagem é esse envolvimento pessoal que ela tem com o trabalho, o que só deixa as coisas mais complexas e interessantes.
A primeira temporada da série é ótima, se por um lado temos a doce e passiva Alicia, de outro nos deparamos com o furacão de autoconfiança chamado Diane Lockhart (Christine Baranski), que interpreta a sócia do escritório o qual acolhe a protagonista na sua volta ao mercado de trabalho. Acho que essas são as duas mulheres mais marcantes da série, dois pólos opostos. Diane é uma mulher determinada e que sabe o quão hostil pode ser estar no poder num ambiente predominantemente masculino, ainda mais tendo que administrar um escritório que passa por uma forte crise econômica. Uma mulher no poder tendo vários homens como subordinados, não é comum e nem é fácil, mas Christine Baranski consegue dominar a todos com uma classe que lhe é peculiar.

Essa independência e segurança não é demonstrada somente no ambiente de trabalho, pois podemos ver isso também nos seus casos amorosos. Primeiro com o perito em balística Kurt McVeigh que é totalmente o seu lado oposto e parece que isso só a deixa mais excitada com a empreitada, e depois com o Oficial de Justiça Jack Copeland (Bryan Brown) que chama a atenção da nossa feminista no episódio da terceira temporada, “Alienation of Affection”, quando ele a intima (literalmente). A forma como ela se envolve é incrível, sem pudor. Isso sem falar que atualmente ela ousou se envolver com os dois ao mesmo tempo.
A season finale da segunda temporada é uma das mais fortes do romance “proibido” entre Alicia e seu Chefe, Will. Os dois vão beber tequila juntos para comemorar o sucesso num caso e como as coisas esquentam, acabam indo parar suíte presidencial de um hotel, que era a única disponível no momento. As cenas são tão incandescentes que começam no elevador que leva à suíte e nem a diária de U$$7.800,00 foi capaz de esfriar as coisas entre eles.
O mais fantástico de The Good Wife, além dos casos jurídicos que são lindamente desenvolvidos, é a evolução da personagem ao longo das temporadas. Alícia passa de uma pacata dona de casa para uma mulher independente de uma forma magnífica, mas dura, como essa mudança deve ser na vida dessas mulheres. Ela se depara com situações em que deve escolher entre os filhos e o trabalho, necessidades sexuais, novas amizades e a descoberta dela mesma em meio a todo esse caos. Temos ainda para apimentar o drama, o seu romance secreto com um ex-colega de faculdade que por ironia do destino é o seu chefe. Pronto, temos “A” história.
Em resumo: MULHER; traída; com filhos; voltando ao mercado de trabalho com seus 30-40 anos; apesar do escândalo, casada e com um romance secreto com o seu CHEFE. Quer mais?
A série, além de ser ótima, ilustra muito bem a Mulher na sociedade atual. Basta pensar em todo esse histórico que eu descrevi, mas com um homem sendo o protagonista. Seria tão chocante ou difícil assim pra ele? Teria mesmo que escolher entre a paternidade ou o trabalho? Acho que não preciso responder, todos sabemos como o mundo gira.
Agora, em plena terceira temporada e lidando com uma Alicia completamente diferente daquela que conheci no início só posso dizer que adorei ser surpreendida. No final, ‘A boa esposa’ se transformou em Wonder Woman, superando todos os estereótipos e barreiras que a mulher enfrenta nesse tal de mundo moderno.