Tenho observado várias violências cotidianas. Do discurso inflamado dos masculinistas, das organizações religiosas contra os direitos das mulheres, das piadas sexistas de cada dia postadas no Facebook, das propagandas que se espalham na mídia disseminando o preconceito e reforçando estereótipos. Penso, que por mais que seja desanimador responder as mesmas questões estoicamente e repetidamente, precisamos nos posicionar contra as afrontas. Essas ondas de oposição e violência só acontecem porque as mulheres estão em movimento. Lutando, reivindicando, revidando e se posicionando contra o status quo machista patriarcal.

Mulheres que não se conformam, nem se sujeitam ao que a sociedade machista espera que elas sejam e façam, essas mulheres se engajam e lutam. Mulheres no mundo todo estão lutando pelo direito de ser o que quiserem, ocuparem os lugares que desejam e de fazerem com suas vidas e corpos aquilo que bem entendem. Mulheres estão lutando pelos seus direitos como indivíduos e também lutando e reinvidicando os direitos de suas comunidades.
Na Espanha, os legisladores estão tentando tirar das mulheres o direito ao aborto. Nos Estados Unidos a mesma coisa acontece: pílula do dia seguinte escassa ou vendida só com prescrição médica, o direitos do nascituro sendo tema de medidas provisórias e emendas na Constituição. Leis são lançadas para restringir o direito ao aborto adquirido há 40 anos atrás. As mulheres revidam lançando leis que dão aos legisladores do corpo alheio um pouco do seu remédio.
Legisladores do corpo alheio estão espalhados pelo mundo. No Brasil a luta pela legalização do aborto é bandeira antiga do movimento feminista, luta que venceu uma batalha importante despenalizando o a interrupção da gravidez em casos de anencefalia, essa batalha foi ganha pois mulheres a colocaram em pauta. Em Honduras, na Espanha, nos Estados Unidos e no Canadá esse direito da mulher está sob ameaça.
Nós, feministas, lutamos por fácil acesso a métodos contraceptivos, pela educação e informação sobre sexualidade. Lutamos pela equidade de salários para os mesmos postos independente do gênero. Lutamos pelo fim de preconceito de gênero. Lutamos pela implicação do homem na criação e cuidados das crianças e idosos. Lutamos por licença partilhada para homens e mulheres que tem filhos recém-nascidos. Lutamos por creches onde pessoas possam deixar seus filhos para poderem trabalhar. Lutamos pelo fim da divisão sexual do trabalho. Lutamos pelo direito da mulher escolher se quer ser mãe ou não. Lutamos acima de tudo pela autonomia da mulher e por seus direitos.

Os direitos das mulheres a seu próprio corpo e a decisão sobre os rumos de suas vidas vão sendo espertamente varridos para debaixo de tapetes ao redor de todo o mundo, como uma luta menor e sem importância. Mas as mulheres lutam, lutamos pois sabemos a importância que a autonomia da mulher como indivíduo é crucial. Seja postando na internet ou marchando pelo direito a suas terras, forçando o Estado a respeitar os tratados que por força do capital são sumariamente esquecidos. Seja no Quebec, nos Estados Unidos ou no Brasil as mulheres estão ocupando os espaços na internet para dar voz as nossas reinvindicações e também nas ruas, se manifestando.
Lutamos juntas! Margaridas, indígenas, vadias, negras, lésbicas, transexuais, feministas. Todas! Lutando contra o machismo que nos diminui e que quer nos tirar a voz. Desde a piada inocente postada no Facebook à fala do do radialista mais influente nos Estados Unidos, chamando de vadia quem defende a contracepção e o aborto. Todos querem nos calar degradando o caráter das mulheres que ousam ter e reivindicar suas vidas sexuais, livres do conservadorismo e moralismo que incrivelmente só atingem à genitália feminina. Valorando mulheres por suas roupas, suas escolhas e comportamento sexual. Nunca escutei ninguém refreando a sexualidade masculina, xingando homens por suas conquistas sexuais, ou pelos shorts que usam. A diferença já começa no discurso: homens tem conquistas sexuais, mulheres são promíscuas.
No Brasil, ainda há muito pelo que lutar, há muito o que fazer, embora muitos não percebam ou escolham não se importar. Não é porque a sociedade é machista que temos que nos conformar em ouvir piadas que degradam a dignidade de mulheres, fingindo que isso não nos atinge. Não é porque a sociedade é machista que vamos ver publicidade que nos idiotiza e submete ao suposto poder econômico de homens, que vamos desviar nossos olhos, afinal não somos assim e essa não é só mais uma piada tola. Não é por que a sociedade é machista e heteronormativa que vamos crer que a finalidade última da vida das mulheres é o casamento, a reprodução e a função de cuidadora.
Temos escolhas e mesmo que as façamos sem refletir estamos escolhendo. Escolhemos abrir ou fechar nossos olhos . Decidiremos por nós mesmas ou deixaremos que outros nos tutelem e decidam por nós, o nosso futuro. Eu sou feminista, eu escolho decidir.