
Texto de Barbara Lopes.
O Movimento de Mulheres Camponesas realiza, de hoje a quinta-feira, seu primeiro encontro nacional, em Brasília. O tema é “Na Sociedade que a Gente Quer, Basta de Violência contra a Mulher!”, chamando atenção para a necessidade de políticas e serviços públicos que atuem na prevenção e atendimento a vítimas de violência, também em áreas rurais.
O encontro tem um papel importante para fortalecer o movimento. A organização de mulheres do campo começou nos anos 1980, com as lutas pelo reconhecimento formal do seu trabalho. No campo, muitas mulheres se dedicam a plantação de alimentos e criação de animais no quintal de casa, para consumo da própria família, enquanto os homens trabalham nas lavouras destinadas à comercialização. Ao não serem reconhecidas como trabalhadoras, as mulheres não tinham acesso a direitos previdenciários, como salário maternidade e aposentadoria por idade. A luta das camponesas, ao revelar a invisibilização do trabalho das mulheres, traz à tona um ponto central da luta feminista por igualdade.
Ao longo dos anos 1990 e 2000, a discussão sobre o modelo de agricultura, com a crítica ao agronegócio, ganhou força entre as mulheres do campo. Sua contribuição é fundamental para a produção de alimentos e a saúde. A questão da autonomia sobre os corpos ganha mais uma dimensão com a denúncia dos efeitos nocivos do uso de agrotóxicos e transgênicos. Essa é um dos temas que estará presente no encontro, com a defesa da soberania alimentar – um conceito construído pela Via Campesina que incorpora não só o acesso a alimentos, mas a qualidade deles e os aspectos culturais de produção e preparo.
O Movimento de Mulheres Camponesas se estabelece como movimento nacional em 2004. No congresso de consolidação do movimento, as participantes explicam que “a constituição de um movimento popular, autônomo, classista aflora da necessidade de unificar as lutas feministas aprofundando a história de luta das mulheres e elaborar coletivamente a intervenção política para a construção de uma sociedade igualitária”.
A realização do encontro nacional é um marco importante dessa história. São esperadas 3 mil mulheres e terá a participação de militantes de Cuba, Honduras, Colômbia, Venezuela, Chile, Paraguai, República Dominicana, Moçambique, África do Sul e Itália. No Parque da Cidade, haverá também uma mostra de agricultura camponesa e atividades culturais. Para mais informações, veja o site do MMC e a página no Facebook.
Atualização: Confira a Declaração do I Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas.