Há anos atrás eu adorava o dia das mulheres. Apesar de já estar dentro de movimentos sociais naquela época, eu ainda não tinha saído do armário feminista. Adorava sair no dia 08 de março e ganhar todos os brindes, rosas e bombons possíveis. Era uma festa pra mim, apesar de entender que era um dia de luta. Um dia, eu entendi que mulheres são mortas e violentadas todos os dias por serem mulheres, que eu não posso ir naquela loja e achar legal um desconto no dia das mulheres porque eu vou ser julgada por essa roupa que vou usar: santa ou puta? Percebi que não tenho autonomia nenhuma sobre meu corpo, tenho um corpo criminalizado, julgado.

Depois de tudo isso, percebi que apesar de todas as lutas que eu tenho que fazer para ser mulher, ainda assim sou privilegiada porque sou cis, branca, hétero e de classe média. Porque não existe escala de opressão: opressão é opressão e ponto final. E aí eu percebi o quanto o feminismo é importante não só pra mim, mas pra todas as mulheres. Descobri a sororidade, a irmandade feminista. Aquela que me faz entrar em uma luta mesmo que não me encaixe em uma identidade política: a luta também é minha. Porque a mulher negra ainda tem seu corpo associado diretamente a sexo, tem menos chance de entrar em uma vaga de emprego, é mais criticada para se encaixar dentro de um padrão estético normativo e branco, são violentadas e obrigadas a negar a sua negritude. A mulher trans* é violentada diariamente por sua identidade de gênero, não tem acesso ao seu próprio corpo, ao seu nome, a sociedade. A mulher lésbica não pode andar tranquilamente na rua com sua namorada porque ou será agredida ou servirá de mero prazer para olhares masculinos, porque muitos homens por aí ainda acham que lésbicas são mulheres que devem satisfazer seus desejos.
E aí eu me descobri mulher no feminismo, me descobri no meio de tantas lutas e tantas identidades. E hoje eu não comemoro o dia da mulher, eu luto. Mas, eu comemoro sempre que uma mulher me conta que venceu o machismo, racismo, lesbofobia, transfobia.
Hoje sou vadia. Sou todas as mulheres. Sou todas as lutas. Sou feminista.