Texto traduzido por Karla Avanço.
Originalmente publicado com o título: What happened when I started a feminist society at school, no site Guardian.co.uk
Nós queríamos desafiar o comportamento machista – mas nós desencadeamos uma inundação de abuso por parte de nossos pares masculinos
Eu tenho 17 anos e eu sou uma feminista. Eu acredito na igualdade de gênero e não tenho nenhuma ilusão sobre o quão longe estamos de consegui-la. Identificar-me como uma feminista tornou-se particularmente importante para mim desde uma viagem de escola que eu fiz para Cambridge no ano passado.
Um grupo de homens em um carro começou a assobiar e gritar comentários sexuais para as minhas amigas e para mim. Perguntei aos homens se eles achavam que era apropriado abusar de um grupo de meninas de 17 anos de idade. A resposta foi furiosa. Os homens começaram a me xingar, me chamaram de puta e jogaram um copo de café em mim.
Para aqueles homens nós éramos apenas pernas, seios e rostos bonitos. Ao falar, quebrei sua fantasia, e eles responderam violentamente à minha voz.
Surpreendentemente, os meninos do meu grupo de colegas responderam exatamente da mesma maneira ao meu feminismo.
Depois de voltar dessa viagem de escola, comecei a perceber o quanto as meninas na minha escola sofriam por causa das pressões associadas ao nosso gênero. Muitas das meninas têm distúrbios alimentares, algumas já foram fortemente pressionadas por seus parceiros a realizarem atos sexuais, outras sofrem em relacionamentos emocionalmente abusivos em que são constantemente chamadas de inúteis.
Decidi criar uma sociedade feminista na minha escola, que foi previamente nomeada uma das “melhores escolas do país”, para tentar lidar com essas questões. No entanto, isso foi mais difícil do que eu imaginava uma vez que minha escola só para meninas estava hesitante em permitir a sociedade. Depois de um ano de luta, a sociedade feminista foi finalmente ratificada.
O que eu não tinha previsto na criação da sociedade feminista foi uma reação maciça dos meninos em meu círculo de pares mais amplo. Eles levaram a reação para o Twitter e iniciaram uma campanha de abuso contra mim. Fui chamada de “vagabunda feminista”, acusada de “alimentar [as meninas] com bobagem”, e em um comentário particularmente racista disseram “toda essa bobagem feminista não vai impedir tio Sanjit de casar você quando você sair da escola”.
Nossa sociedade feminista foi ridicularizada com réplicas como: “FemSoc, isso é de verdade? # DPMO “[don’t piss me off / não me irrite] e todas as tentativas que fizemos para iniciar um debate sério foram recebidas com respostas como “feminismo e estupro são ambos ridiculamente cansativos”.
Quando mais as meninas começavam a expressar suas opiniões sobre as questões de gênero, mais virulento o abuso dos meninos ficava. Um garoto declarou que “as vagabundas deveriam manter a sua vagabundagem para elas mesmas #VAGABUNDA” e outro presunçosamente brincou: “o feminismo não significa que eles não gostam do P, elas apenas não encontraram um para satisfazê-las ainda.” Qualquer tentativa que fizemos para nos posicionarmos uma pela outra foi agressivamente combatida com “entre na linha antes que eu ridicularize você também”, ou menosprezada com observações como “que bonitinho, elas ficaram ofendidas”.
Eu temo que muitos garotos da minha idade fundamentalmente não respeitem as mulheres. Eles querem a gente em volta para festas, brincadeiras e acima de tudo para sexo. Mas eles não pensam em nós como intelectualmente iguais, com destaque para acusações de sermos histéricas e supersensíveis quando tentamos discutir problemas sérios enfrentados pelas mulheres.
A situação culminou recentemente em uma intensificação quando nossa sociedade feminista decidiu participar de um projeto em âmbito nacional chamado Who Needs Feminism. Nós tiramos fotos de meninas segurando um quadro no qual elas completaram a frase “Eu preciso de feminismo porque …”, muitas vezes se aprofundando em experiências pessoais dolorosas para articular por que o feminismo era importante para elas.
Quando postamos essas fotos online ficamos sujeitas a uma enxurrada de comentários degradantes e explicitamente sexuais.
Nos disseram que nossas “vaginas militantes” eram “tão secas como o deserto do Saara”, as meninas que se queixavam de objetificação sexual em suas fotos receberam classificações até 10, detalhes das vidas sexuais de algumas das meninas foram publicadas ao lado de suas fotos e outras receberam mensagens ameaçadoras alertando-as de que as coisas logo “ficariam pessoais”.
Nós, um grupo de garotas de 16, 17 e 18 anos de idade, nos fizemos vulneráveis ao falarmos sobre as nossas experiências de opressão sexual e de gênero só para provocar a ira do nosso grupo de pares masculinos. Em vez de a nossa escola tomar medidas contra tal comportamento intimidador, ela insistiu que removêssemos as imagens. Sem o apoio da nossa escola, as meninas que participaram da campanha foram isoladas, enfrentando uma grande quantidade de abuso verbal com o pleno conhecimento de que não haveria repercussões para os agressores.

Já faz mais de um século do nascimento do movimento sufragista e os garotos ainda não estão sendo criados para acreditar que as mulheres são suas iguais. Em vez disso, temos um novo campo de batalha se abrindo online onde os garotos podem nos atacar, humilhar, menosprezar e fazer tudo ao seu alcance para destruir a nossa confiança antes mesmo de sairmos do ensino médio.
É lamentável que uma instituição responsável pela preparação de mulheres jovens para a vida adulta tenha se oposto a nosso trabalho feminista. Eu sinto que a escola não está apoiando suas meninas em uma parte crucial da sua evolução para serem mulheres fortes, assertivas e confiantes. Se esse é o caso de uma escola só de meninas bem estabelecida, que esperança esta geração de mulheres têm em desafiar a misoginia que ainda permeia nossa sociedade?
Se você achava que a luta pela igualdade feminina havia acabado, eu sinto muito em dizer-lhe que uma nova rodada está apenas começando.
Altrincham Grammar fez o seguinte comentário sobre a sociedade feminista:
“Altrincham Grammar School for Girls apoiou Jinan na criação da sociedade, fornecendo assistência administrativa, orientação e sugerindo, de maneira proativa, oportunidades para ajudar as integrantes a explorarem essa questão pela qual elas são tão apaixonadas.
“Estamos comprometidos em proteger a segurança e bem estar das nossas alunas, o que se estende para a sua segurança online. Nós consideramos muito cuidadosamente quaisquer sociedades para as quais a escola dá o seu nome e apoio.”
“Como tal, vamos tomar medidas para recomendar às estudantes que removam palavras ou imagens que elas coloquem online, que possam comprometer a sua segurança ou a de outras alunas na escola.”