Garanta DJÁ a sua masculinidade: CRESÇA

Texto de Fabiana Motroni

(esse post foi inspirado por essa falta de inspiração aqui)

Eu queria te contar uma coisa, amigo homem: senta e se prepara. Pode doer, mas depois melhora.

crying superman cries
mulher maravilha e super homem são personagens da DC Comics

Eu queria te contar que você não é mais um bebê, que você não é o centro de tudo, que o mundo todo não é a sua mãe ou o seu pai, que os outros não estão à sua total disposição: o mundo não existe para o seu prazer.

Eu também queria te contar que você não é melhor que ninguém, não é superior a ninguém. Não, eu sei, é tão difícil isso, eu sei que alguém te ensinou isso, eu sei que tem até livros que dizem isso. Mas queria te contar uma coisa: quem te disse isso, ou escreveu isso num livro, era louco, ou doente, ou criminoso, ou enganado por outro louco, doente ou criminoso. ou tudo isso. Eu sei, muito difícil.

Mas eu entendo, você já nasceu e era tudo assim e era tudo tão natural, e você não tinha entendido que aquilo era tudo roubo, era tudo invenção, era tudo mentira: eram privilégios. E eram privilégios autoconferidos, nunca merecidos. Sabe ganhar um prêmio numa competição em que você não deixa mais ninguém se inscrever? Pois é, é isso que são os privilégios. Sempre injustos, e sempre à revelia dos outros seres humanos que compartilham o mundo e a vida contigo.

Sim, porque existem outros seres humanos no planeta terra, esse em que você vive. As mulheres, por exemplo, seres humanos como você. Inclusive perante a lei. As mulheres, sabe, aqueles seres humanos cujas bundas — conforme te ensinaram — existem com o objetivo de serem olhadas por você.

Mas eu queria te contar uma coisa: não, as bundas das mulheres não existem para isso. as bundas delas são como a sua bunda, servem para as mesmas coisas. E-xa-ta-men-te para as mesmas coisas (sim, inclusive para isso que você está pensando). E as bundas delas fazem parte do corpo delas. E o corpo delas tem dono: elas mesmas. Se você quiser fazer qualquer coisa com a bunda de uma mulher, você tem que pedir. Entendeu? Se ela disser que não, é não. inclusive, olhar para a bunda da mulher na rua. Se ela olhar para você de volta com um não nos olhos, é não também. E você, no máximo, agradece. E vice-versa: sua bunda é sua bunda. Se uma mulher quiser fazer alguma coisa com a sua bunda, ela tem que pedir para você. E pasme: você PODE dizer que não e ainda assim continuar sendo homem. Não é o máximo?

Ah sim! Esqueci de te dizer que tem mulher que gosta (só) de bunda de mulher, e que elas também tem que pedir licença se quiserem fazer algo com a bunda de outra mulher. E que tem homem que gosta (só) de bunda de homem, e ele também tem que pedir se quiser fazer algo com… a sua bunda, por exemplo. E você, é claro, pode dizer que não, e ainda assim continuar sendo homem por ter respondido numa boa. Ou então, você pode responder que sim para o homem que quer fazer algo com a sua bunda e continuar sendo homem mesmo assim.

Então, se alguém chegar com um manifesto qualquer em defesa da sua masculinidade, não se engane, nem se emocione. Diferente de você agora, essas são falsas pessoas crescidas que apenas agem como bebês chorões, porque não querem perder o privilégio de ter quem troque suas fraldas ou lhes dê papinha na boca.

Porque você, homem crescido, sabe que dá para ser feliz sem tirar a felicidade dos outros, que dá para ser livre sem tirar a liberdade de alguém.

Então, quando algum amigo seu chegar abanando uma revistinha masculina qualquer, dizendo que é isso mesmo, o mundo tá ficando chato, que o politicamente correto está afetando a masculinidade dele, diga pra ele:

apenas CRESÇA.

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Esse texto foi originalmente publicado em meu perfil no Facebook.