Texto de Daniela.
Muitas mulheres cissexuais tem vontade ou necessidade de encontrar métodos contraceptivos não hormonais. Tenho tido uma experiência interessante com uma alternativa pouco difundida, o diafragma. Muito se diz sobre não ser confiável ou desconfortável, mas há maneiras de minimizar estes problemas.

Há determinadas condições para o uso da forma como eu tenho feito. Atualmente, tenho um período menstrual regular (com variação entre 30 e 32 dias), e isso facilita a combinação de métodos que passei a usar. Cada pessoa tem um corpo que funciona de maneira diferente, e pode ter variações ao longo da vida, há quem ovule mais de uma vez no mês, quem tenha ciclos irregulares ou que ovule a cada dois meses. Cada mulher deve avaliar o seu caso. Além disso, atualmente estou numa relação heterossexual e monogâmica. A camisinha é o melhor contraceptivo para a maioria dos casos, pois também previne doenças sexualmente transmissíveis, por isso seu uso deve sempre ser incentivado. Mas, não é a melhor alternativa para mim e meu parceiro atual.
Particularmente, nunca quis tomar pílula ou usar DIU (Dispositivo Intra Uterino), os métodos mais indicados pelos ginecologistas atualmente. Buscando maneiras alternativas de evitar a concepção, cheguei a um médico homeopata que me recomendou experimentar o diafragma. Consultei três ginecologistas. Todos tentaram me demover da opção, ou, no mínimo, entendem como uma opção esdrúxula atualmente, parece “fora de moda”. Confiando no homeopata, pedi a medição do colo a uma ginecologista e adquiri o produto — que custa cerca de R$100,00 e tem durabilidade de 5 anos. Mas, dando ouvidos às ponderações destes ginecologistas que dizem que o método não é seguro – e eu definitivamente não quero engravidar, resolvi não arriscar e passei a alternar o uso do diafragma com o da camisinha em período fértil, combinando três métodos: a tabelinha, o diafragma e a camisinha.
Parece complicado, mas é bem simples. No primeiro dia da menstruação faço os cálculos e agendo um aviso no celular para me lembrar do início e fim do período fértil naquele mês. Durante os oito dias mais férteis usamos camisinha. No restante do mês, o diafragma. Não coloco nenhum tipo de espermicida, eliminando o que para mim parecia um desconforto no uso do método. Utilizo-o assim há cerca de nove meses e tem sido eficaz. Sempre há o risco de gravidez, mesmo que mínimo, porém, como meu ciclo apresenta-se regular, não tive problemas.
Quanto ao uso do diafragma, acho bom compartilhar que no início fiquei com uma série de dúvidas e receios, devido à ausência de informação por parte de ginecologistas e mesmo de sites e do próprio fabricante do produto. Li no Segundo Sexo, da Simone Beauvoir, que meus receios eram comuns e ancestrais, afinal, o que acontece “lá dentro”? A ciência mesmo se dedica pouco ao caso, descobriram há cerca de uma década o que acontece com o clitóris em estado de excitação! Aparentemente, não há com que se preocupar, desde que o diafragma seja usado corretamente.
Também é importante frisar que a legalização do aborto é um direito reprodutivo fundamental, especialmente porque não existe método de contracepção 100% infalível. Portanto, a luta é para que todas as pessoas tenham cada vez mais informação e possibilidade de escolherem o método anticoncepcional que melhor se adeque a seu caso, além de garantir também a possibilidade de realizar um aborto de forma segura e gratuita.
Vídeo – Métodos contraceptivos: Diafragma.
Autora
Daniela tem 31 anos e é divorciada. Há anos atrás realizou um aborto, mesmo sendo, à época, casada, com todas as condições objetivas para ter um filho. A escolha deve ser nossa.