O rock das garotas que gritam: violência doméstica, não sou obrigada!  

Texto do Coletivo Roque Pense!

A programação do Festival Roque Pense! 2015 foi anunciada, e nesta edição, que acontece nas celebrações do Dia da Mulher – de 5 a 8 de março – o tema será violência doméstica na juventude, através da campanha: “Garotas, Roque e Novas Ideias por uma Baixada sem violência”.

O festival de cultura antissexista já discutiu a Lei Maria da Penha, a educação não sexista e resgatou a memória de uma das maiores feministas brasileiras: Armanda Alvaro Alberto. Agora coloca uma lupa na violência doméstica entre mulheres e homens jovens.

Campanha do coletivo Roque Pense!, "Violência Doméstica: Não sou obrigada!".
Campanha do coletivo Roque Pense!, “Violência Doméstica: Não sou obrigada!”.

A divulgação dos dados do Dossiê Mulher (.pdf), pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) em 2013, revelou que as cidades de Nova Iguaçu e Duque de Caxias, as maiores da Baixada Fluminense, figuram no ranking estadual com os mais altos índices de violência contra as mulheres, dentre os casos notificados. Esses índices se repetiram no Dossiê Mulher 2014 (.pdf), o que pautou a urgência de um debate na região.

No entanto, a falsa ideia que o machismo não acontece entre a juventude sempre foi uma abordagem das ações do coletivo. Questões como a cibervingança, a violência dentro do lar, o casamento servil e a violência psicológica são recorrentes no cotidiano de milhares de jovens, todos os dias, em todo o país.

A violência doméstica no ambiente familiar se manifesta principalmente quando a garota tem de obedecer a papeis diferenciados que limitam sua autonomia, como obrigações com as tarefas domésticas, os horários mais rígidos para voltar para casa, as restrições as suas roupas e amizades, até mesmo as suas músicas, casos bem comuns entre as rockeiras que vivem na região. Rodeadas de padrões religiosos e patriarcais restringem-na a fazer suas escolhas de vida, obrigando-as a abandonarem seus sonhos.

Nas relações amorosas a violência psicológica se estabelece de forma sutil ou agressiva, como a negociação sobre o uso do preservativo: muitos garotos se recusam alegando que a namorada pode ter outros parceiros ou que a obrigação da prevenção é da mulher. A forma mais recente de violência psicológica são os crescentes casos de jovens chantageadas por namorados a terem expostos vídeos e fotos íntimas, a cibervingança. Quando isso ocorre são punidas também pela opinião pública que torna a vítima em culpada. Forma semelhante de julgamento são os abusos durante festas e shows quando garotas estão sob o efeito de álcool e os abusadores, muitas vezes namorados ou amigos, sentem-se no direito de praticar tais violações.

A pesquisa “Violência contra a mulher: o jovem está ligado?” (.pdf), feita pelo Data Popular/Instituto Avon em novembro de 2014, com jovens de ambos os sexos, de 16 a 24 anos, indica que um terço das mulheres já foi xingada ou impedida de usar alguma roupa. 40% das garotas declaram que o parceiro tentou controlar suas vidas com telefonemas para saber onde e com quem elas estavam. 53% das jovens já tiveram mensagens ou ligações no celular vasculhadas pelos parceiros. Muita gente justifica esse comportamento dizendo que é amor, cuidado, preocupação, carinho… Quem controla a vida de outra pessoa, não respeita a sua privacidade e seu modo de ser, se expressar ou se vestir, não está sendo amoroso. Isso é violência. “Tá ligada?”, diz a socióloga Adriana Mota, que esteve na Roda de Ideias realizada na última edição do festival.

A campanha colaborativa, com participação de artistas, produtores e ativistas, encara a violência doméstica construindo uma cultura antissexista, através de linguagens, estéticas e práticas próprias da juventude e da cultura urbana.

O primeiro encontro foi realizado em novembro, reunindo mulheres para debater e construir o conteúdo da campanha a partir das perspectivas femininas. A primeira colaboradora da campanha é a artista visual Evelyn Queiroz, a Negahamburguer: “Fiquei feliz por ilustrar nossas causas de todo dia” disse Evelyn, que também assina a arte do festival. Diversas designers fazem parte da campanha virtual com a frase: Violência Doméstica: Não Sou Obrigada!

O conteúdo acumulado será debatido na abertura do festival, dia 5 de março na Biblioteca Municipal. A Roda de Ideias trará Jussara Oliveira para falar sobre a cybervingança, a escritora Schuma Shumaer da Redeh e Rita Andrea, conselheira do Fundo Elas. As oficinas para mulheres trazem intervenção urbana com Gabi Bruce do Flores do Brasil e produção audiovisual com as mulheres do Cineclube Mate com Angu, ambas técnicas para empoderar as garotas na área da arte e da cultura. Já a competição feminina de skate, um espaço dominado pelos caras, é coordenada pela skatista MaryJane, com intervenção das rappers Aimée Tequila e Izzy Bey.

Ive Seixas se apresenta na abertura, dia 5. Nos dias 6, 7 e 8 de março, 12 bandas tocam ao vivo no palco do Teatro Raul Cortez, com bandas do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, entre elas o hardcore lésbico feminista Anti-Corpos, com sua formação original. “Tocar no Roque Pense foi uma das experiências mais legais da Anti-Corpos, estamos mega na pegada de voltar e fazer um show massa, rever pessoas incríveis, criar novos laços em um rolê organizado por um monte de mina incrível. E meu, no dia da mulher!”, disse Adriessa, guitarrista do grupo.

O dia internacional da mulher será uma grande roda punk, com muito rock feito por mulheres, onde todos os acordes, distorções, letras, gritos, danças e pensamentos apontam para uma nova ordem: Violência Doméstica, não sou obrigada!

Programação 

Dia 5 de março (quinta, às 19 hr) ma Biblioteca Leonel Brizola

Abertura do Festival Roque Pense
Roda de Ideias “Garotas, Roque e Novas Ideias: Por uma Baixada Sem Violência” com: 
Schuma Schumaher (REDEH)
Luciana Campello (Fundo Elas)
Jussara Ribeiro ( Blogueiras Feministas)

+ POCKET SHOW com: Ive Seixas
Na Biblioteca Leonel Brizola

Dia 6 de março (sexta, às 19 hrs) na Praça do Pacificador:

SHOWS com as bandas:
Indiscipline
Join The Dance
Drenna
Melyra`

+ Live Painting com Negahamburguer

Dia 7 de março (sábado)

Biblioteca Leonel Brizola, a partir das 15 hrs:
*OFICINAS PARA MULHERES
– Vídeo clipe-se, com Cineclube Matecomangu
– Artivismo da Rua, com Flores do Brasil

SHOWS com as bandas (19 hrs) na Praça do Pacificador:
Street Cats
Ventre
Flip Chicks
Cretina

Dia 8 de março (domingo) na Praça do Pacificador:

3ª edição da Jam Session feminina de Skate GIRLS in AÇÃO
+ Rap com : Aimée Tequila e Izzy Bey

SHOWS com as bandas (19 hrs):
Útero Punk
Post
The Shorts
Anti-Corpos

Autoria

O Coletivo Roque Pense! é um coletivo de cultura antissexista, formado por produtoras culturais da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

+ Sobre o assunto: Rock n’ roll anti-sexista: Entrevista com Giordana Moreira.