Mas que raio de mãe é você?

Texto de Deh Capella.

Uma das grandes lições que se pode aprender no convívio com outras pessoas é de que a diferença existe, povoa o mundo e não só é possível como necessário conviver com ela. Por vários motivos: porque não existe só um modo de viver e de fazer as coisas, porque quem não vive ou pensa da mesma forma como nós merece generosidade, compreensão e respeito e porque é menos sofrido quando não se quer consertar as pessoas e suas atitudes a qualquer preço.

É super temerário apelar àquela exclusividade de conhecimentos e sentimentos que só os pais tem, mas a verdade é que a experiência de quem já teve filho no quesito “ouvir pitacos” é bastante incrementada pela participação, muitas vezes indesejada, de quem sabe o que é melhor pro filho alheio – porque já teve um, dois, cinco, dez (mas não todos) filhos. Então você aí que é mãe já escutou aquele sensacional questionamento a respeito da qualidade do, hm, trabalho desenvolvido neste amplo campo de atuação que é a maternidade.

Deixe pra lá. De verdade. Como sempre enfatizamos, não existe um jeito só de existir e de viver, por que haveria um só sentido e uma prática única? Então quando te perguntarem “mas que raio de mãe é você?”, você pode se inspirar nos exemplos abaixo pra responder e dar aquele sonoro tapa na cara da sociedade:

Diana Melo e Milena Araguaia. Foto de Julia Zamboni. Todos os direitos reservados
Diana Melo e Milena Araguaia. Foto de Julia Zamboni. Todos os direitos reservado

“Eu sou aquela mãe “solteira” que um belo dia se deu conta de que não precisava abrir mão de ter uma vida amorosa por causa do filho. E aí resolveu se dar uma nova chance, conheceu uma pessoa incrível, namorou, foi morar junto, e em alguns meses o amor da mãe, virou o “amô” do bebê também. E os três vamos muito bem, obrigada.” Tâmara, mãe do Miguel de 2 anos

“Eu sou aquela mãe que colocou a filha no berçário aos 4 meses, sempre trabalhou e viajou por motivos profissionais. Mesmo agora, à caça de um novo emprego, a mantém na escola em período integral. E, acreditem, tenho convicção que estou fazendo o melhor para ela.” Ludmila, mãe da Teresa, de quase 4 anos.

“Eu sou aquela mãe que não amou o bebê de imediato assim que ele nasceu. Nunca acreditei em amor à primeira vista, com a minha filha não seria diferente.” Renata, mãe da Liz de 7 meses

“Eu sou aquela mãe que às vezes espera os filhos dormirem pra abrir um chocolate, porque não quer dividir.” Maria Angélica, mãe da Joana, de 6 anos, e do Bento, de 2 anos

“Eu sou aquela mãe que é a favor da amamentação prolongada, livre demanda e sem paninhos no rosto, mesmo para aquele “homem-feito” de dois anos idade ” Mariana, mãe do Apolo de 02 anos

“Eu sou aquela mãe que ainda lamenta por trabalhar o dia inteiro. Que já sofre pensando que também terá que deixar a segunda filha (que nem nasceu !) o dia inteiro na creche. Mas que, ao mesmo tempo, não se imagina sem trabalhar fora de casa. E que queria ser bem resolvida nesse quesito, mas ainda não conseguiu” Agnes, mãe da Manu de 2 anos e meio e da Lígia que deve chegar ao mundo mês que vem

“Eu sou a mãe que, com medo de ser superprotetora, guardei certa distância e deixei a filha de 3 anos e 9 meses subir no brinquedo do parquinho. Um menino maior a empurrou, ela caiu e teve que levar 4 pontos no queixo” Alessandra, mãe da Isa, de 4 anos e 10 meses

“Eu sou aquela mãe que disse que a filha iria levar o lanche da escola na sacolinha do Boticário, se a lancheira nova esquecida sabe-se onde não aparecesse!!!” Layz, mãe da Elanor de 7 anos

“Eu sou a mãe solteira que não planejou a filha, que não a amou de imediato, até pq ela nasceu muito prematura e foi difícil aceitar tudo o que estava acontecendo, que se culpou por não conseguir segurar a gravidez até o fim. Aquela mãe que quer ser liberal mas se dá conta que na maioria das vezes é superprotetora. Aquela mãe que acabou de assumir um cargo público e vai fazer um treinamento de 2 semanas a 280 km de distância e está com o coração apertado por causa disso… Sou aquela mãe que não consegue mais viver sem essa pituca…” Ana Beatriz, 33 anos, mãe da Lavínia, 1 ano e 10 meses

“Eu sou a futura mãe solteira, grávida de 38 semanas, que vira e mexe manda pro inferno quem acha que agora eu “vou me comportar” e virar uma “moça direita e resignada” porque ser “mãe” é abdicar de si própria.” Diana, grávida, futura mãe do João Francisco

“Eu sou aquela mãe que deixa o filho comer macarrão com molho com a mão. Inclusive em restaurantes. Sou a mãe que foge dos porquês trancando o banheiro pra tomar banho.”  Sharon, mãe do Tomás, de 3 anos.

“Eu sou aquela mãe que usava a controversa “coleirinha” na filha sem dó nem piedade porque morria de medo das histórias de crianças sumidas, pior ainda, ensinei a filha a adorar.” Sooraya, mãe da Sofia de 4 anos e meio

“Eu sou a mãe com TDA que às vezes esquece que eles precisam tomar banho.” Nalu A., mãe do Tariq de 9 e do Gael de 3 anos

“Eu sou aquela mãe que tem a cara de pau de levar a filhota de dois anos vestida de pijama a uma festinha chique de outra criança de dois anos.”  Amanda, mãe da Sofia, de 2 anos e meio

“Eu aquela mãe que pede conselhos para as amigas da internet e quase sempre dispensa os das avós”  Fabiana, mãe da Clarice de 8 anos.

“Eu sou aquela mãe que não dá banho nos filhos quando está com preguiça. Aquela que detesta os porquês. Sou a mãe que nunca manda a filha fechar as pernas porque está de saia e que ama quando a menina brinca de luta de Barbies fingindo que elas são Bakugans. Sou a mãe que está sempre cheia de dúvidas e prefere as dúvidas às certezas consumidas avidamente por tantas outras.”  Liliane mãe de Heitor 7 anos e de Anaïs 5 anos

“Sou a futura mãe que, por questões de militância pelos direitos da mulher, se recusa a chamar o feto crescendo dentro de mim de bebê e sigo chamando-o de… fet@. Apesar de explicar as razões e que da 8a semana até nascer, um feto é um feto, não um bebê, muita gente que me cerca segue horrorizada com a suposta despessoalização.”  Elaine, grávida de 4 meses.

“Eu sou aquela mãe que aproveita os finais de semana em que o filho está no pai e se diverte sem culpa. E que manda o filho para um intercâmbio num país gelado a 8.000 km de casa e nem fica com remorso.”  Cecilia, mãe do Lucas de 18 anos

“Sou a mãe que esquece de lavar uniforme e de encapar caderno e que se ressente com isso. Mas que se recusa a fazer do filho o grande projeto de vida porque acha os ombrinhos dele muito pequeninos.” Deh, mãe do Alê, de 5 anos e meio.

Enfim. Já que é preciso ter muita paciência para lidar com os palpiteiros de plantão, nada melhor do que levar no bom humor. Então a gente te convida a conhecer,  e quem sabe até contribuir com este tumblr: http://queraiodemae.tumblr.com/

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Deh Capella é mãe do Alê de 5 anos e escreve no blog Por trás da tela…

O FemMaterna é um grupo de discussão sobre maternidade com uma proposta feminista. Se quiser participar, basta pedir solicitação na página do grupo. Participe também no facebook.